Um Olhar Sobre a Esquizofrenia

Artigo escrito pelo Produtor Cultural Omar Dimbarre desmistifica a doença e coloca luz sobre o assunto.

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No Brasil, em 2021, a esquizofrenia afetava cerca de 1,6 milhão de pessoas, segundo a Secretaria de Atenção Primária à Saúde
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Alucinações, delírios, déficits cognitivos, isolamento social, pensamento e fala desorganizados, mudança de comportamento, dificuldade de expressar emoções e sentimentos, e perda do contato com a realidade, são alguns dos sintomas da esquizofrenia, transtorno mental que, conforme a OMS – Organização Mundial da Saúde, atinge cerca de um por cento da população do mundo.

No Brasil, em 2021, a esquizofrenia afetava cerca de 1,6 milhão de pessoas, segundo a Secretaria de Atenção Primária à Saúde (Saps), do Ministério da Saúde. O percentual brasileiro fica em torno de 0,79%. Índice que, caso seja aplicado na região que compreende Joaçaba, Herval d´Oeste e Luzerna, resulta em um número bastante expressivo, concluindo-se que, a imensa maioria, assim como acontece no restante do país, não possui diagnóstico ou tratamento.

Conviver com a esquizofrenia é processo extremamente difícil e doloroso. Viver em um mundo, onde muitas vezes não é possível distinguir as alucinações da realidade, resulta em um sofrimento psíquico muito grande. Ouvir vozes que estão dentro da própria cabeça, ver imagens que não existem, transformar imagens que existem em outras imagens, sentir-se perseguido, é bastante perturbador.

E o preconceito, enraizado na sociedade, faz com que a maioria das pessoas, por falta de informações, ou por receber informações deturpadas, associe os portadores da doença a loucos e agressivos, agravando ainda mais a situação.

A incompreensão, o preconceito, a falta de empatia, torna muitos portadores deste distúrbio, invisíveis. Sofrem em silêncio, sem se abrir com familiares e amigos, e portanto, sem procurar ajuda com profissionais da área. A exclusão social fomenta o medo de assumir a doença perante si mesmo, e perante os outros, fazendo com que a busca por tratamento adequado não ocorra. E a busca por tratamento adequado, com o uso de medicamentos e apoio psicossocial, podem diminuir os sintomas da doença, dando ao paciente uma melhor qualidade de vida.

O portador de esquizofrenia não é louco. É um doente que precisa de tratamento, de compreensão, de humanidade, de afeto. Precisa de alguém com quem possa falar sobre o que vivencia, sobre suas alucinações, seus delírios. Suportar a dor de viver em entre a realidade e a ilusão não é uma tarefa fácil. É preciso dividir o fardo, que é muito pesado.

Tratar o portador de esquizofrenia como louco é estigmatizá-lo. É colaborar para que ele padeça mais ainda.

A agressividade não é uma característica do portador de esquizofrenia. Em momentos de surto,  causados geralmente pela falta de medicação ou pelo uso inadequado dela, podem se sentir perseguidos ou ameaçados, e somente nestas condições, então, apresentar um comportamento mais agitado.

De acordo com uma pesquisa publicada no American Journal of Psychiatry, em função do preconceito que sofrem, pessoas com esquizofrenia têm mais chances de serem vítimas do que cometerem crimes violentos.

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Um estudo norte-americano comparou o preconceito aos portadores de esquizofrenia nos anos 50 e agora, e a conclusão, é que ele aumentou, e o responsável por isto, é a associação com a violência e o medo que as pessoas tem de serem vítimas de algum paciente.

Conforme matéria publicada na Scielo (Scientific Electronic Library Online), em levantamento feito nos portais dos principais veículos impressos brasileiros, nos anos de 2008 e 2011, a maioria dos textos encontrados sobre esquizofrenia, não dá voz ao portador e ao seu sofrimento, banaliza a doença, e reforça o estigma que pesa sobre o portador, ao personalizá-lo apenas nos raros casos de violência, em que supõe-se, o autor, seja diagnosticado com a doença.

Vários sites na Internet, dedicados à psiquiatria, informam que pessoas com esquizofrenia não são violentas, e que os casos de violência cometida por portadores da patologia, não são maiores que os casos de violência de pessoas que não possuem o distúrbio.

Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), a esquizofrenia é a terceira principal causa da perda de qualidade de vida entre jovens e adultos.

Suicídio

Em palavras proferidas pelo presidente da Associação Psiquiátrica da América Latina, Antônio Geraldo da Silva, a esquizofrenia está associada com o aumento de dez vezes o risco de morte por suicídio, e 50% dos pacientes portadores deste distúrbio, podem atentar contra a própria vida em algum ponto do curso da doença, sendo mais comum durante os anos iniciais.

 E, conforme o Ministério da Saúde, 10% dos pacientes com esquizofrenia se suicidam, 10,6% das pessoas que morrem por suicídio no Brasil, foram diagnosticadas com esquizofrenia e não são tratadas, ou são tratadas de forma inadequada. Em 2022, foram registradas 16.262 mortes por suicídio, segundo dados do Anuário Brasileiro de Segurança Pública. Aplicando o percentual nacional, cerca de 1.723 portadores de esquizofrenia tiraram sua própria vida, neste período.

Em declaração efetuada pelo professor sênior do Departamento de Psiquiatria da USP e coordenador geral do Programa de Esquizofrenia do Instituto de Psiquiatria da universidade, Helio Elkis, “Há um risco muito grande de suicídio nos pacientes com doença mental, sem tratamento”. Ele frisa que “Só o tratamento psiquiátrico pode levar à cura da depressão e dos pensamentos de morte. Para isso, no entanto, é preciso se livrar do preconceito que ainda existe em torno de muitas das doenças mentais – e da esquizofrenia em particular.”

Causas

Conforme o site do CEMEC - Centro Multidisciplinar de Estudos Clínicos, os fatores que podem originar a esquizofrenia são os seguintes: 

“Fatores hereditários – A sua predisposição pode ocorrer nas famílias. Parentes de primeiro grau de um esquizofrênico, por exemplo, têm mais chances de desenvolver a doença. Por isso, se um dos pais tiver esquizofrenia, os filhos têm até 10% de chance de desenvolvê-la. 

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Fatores ambientais – A exposição a certas infecções virais; complicações da gravidez e do parto, como o uso de cigarro durante a gestação, o baixo peso ao nascer e a hipóxia (falta de oxigênio) durante o parto; más condições socioeconômicas; e o uso de certas drogas psicoativas ou psicotrópicas, como a maconha e metanfetamina. 

Alterações neuroquímicas – Pessoas com esquizofrenia também tendem a ter diferenças nas substâncias químicas do cérebro chamadas neurotransmissores, como a dopamina e o glutamato, que são responsáveis por controlar a comunicação cerebral. Nelas, eles costumam ser ou muito ativos ou não ativos o suficiente.

Manifestação 

Geralmente se manifesta no final da adolescência ou no início da idade adulta (entre 17 e 30 anos). A esquizofrenia de início precoce, se manifesta entre os 13 e 17 anos de idade, e a muito precoce, tem sua manifestação antes dos 13 anos de idade. A esquizofrenia infantil é uma doença mental rara, mas grave, na qual as crianças interpretam a realidade de forma anormal.

Sintomas

Os sintomas da esquizofrenia são divididos em dois tipos, chamados de negativos e positivos.

Sintomas Positivos - Composto por alucinações e delírios, mais relacionados aos surtos psicóticos e pensamentos desordenados, e distúrbios do movimento (movimentos do corpo agitado) O paciente perde a capacidade de distinguir a imaginação da realidade.

Alucinações:

A Alteração da sensopercepção (percepção e interpretação dos estímulos que se apresentam aos órgãos dos cinco sentidos), que pode acometer a essas pessoas, pode fazê-las alucinar, ou seja, ter a percepção clara e definida de um objeto, uma voz, um ruído, uma imagem, sem suas presenças. As alucinações podem ser auditivas, visuais, olfativas, gustativas, táteis, cenestésicas e cinestésicas.

Alucinações Auditivas - São as mais comuns, ocorrendo em 50% dos casos. O paciente escuta vozes, que o xingam, depreciam, ou podem ser de comando, mandando ele fazer algo. 

Alucinações Visuais - Ocorre em 15% dos casos, e o indivíduo vê imagens de pessoas, objetos, cores, pontos brilhantes, animais e outras formas que não estão presentes no ambiente. Ocorrem também ilusões, onde um objeto que existe, é percebido com outra forma.

Alucinações Táteis, Olfativas, Gustativas, Cenestésicas e Cinestésicas – São mais raras, e compreendem sensações de toques que não existem (táteis), a pessoa sentir um cheiro que não está presente (olfativas), sentir gosto de alimentos que não está comendo (gustativas), sentir que órgãos internos do corpo desapareceram ou atrofiaram (cenestésicas), ter sensações alteradas de movimentos do corpo, como sentir o corpo afundando, as pernas encolhendo ou um braço se elevando (cinestésicas).

Delírios - São crenças que não correspondem à realidade, mas que a pessoa tem convicção absoluta. Ela pode acreditar que está sendo perseguida, vigiada, observada, ou espionada.

Sintomas Negativos incluem:

- Dificuldade de expressar emoções e sentimentos

- Isolar-se da família e dos amigos e evitar atividades sociais.

- Pensamento e fala desorganizados

- Pobreza da fala

- Sentir falta de energia e motivação

Drogas

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Em uma ampla pesquisa realizada pelo Centro de Saúde Mental do Hospital Universitário de Copenhague, na Dinamarca, na qual foi analisada a relação entre usuários de drogas e a esquizofrenia, o resultado final indicou uma maior propensão em desenvolver o distúrbio, conforme a substância utilizada: maconha = 5,2 vezes, álcool = 3,4 vezes, drogas alucinógenas = 1,9 vezes, sedativos = 1,7 vezes, anfetaminas = 1,2 vezes, e outras substâncias = 2,8 vezes.

Diagnóstico

O médico psiquiatra faz o diagnóstico da doença a partir de sinais e sintomas. Não há nenhum tipo de exame de laboratório que permita confirmar que a pessoa tem esquizofrenia.

Tratamento

O tratamento da esquizofrenia tem como objetivo a diminuição dos sintomas e a retomada da rotina, trabalho e relacionamento com amigos e familiares, e envolve as seguintes medidas:

- A administração de medicamentos psicotrópicos, receitados por um psiquiatra, com o intuito de diminuir os sintomas e prevenir as crises.

- Psicoterapia individual ou em grupo, como forma de ajudar nas suas relações sociais, comunicação, restabelecimentos dos padrões emocionais e pensamentos, e também para ajudar a lidar com sua esquizofrenia

- Terapia Ocupacional, onde são promovidas atividades com o intuito de inserir ou reinserir a pessoa portadora da doença na sociedade, ajudá-la a enfrentar suas limitações, expressar seus sentimentos, organizar rotinas, e estimular suas funções cognitivas, como memória, atenção e concentração, e com isto, ajudar com sua independência e autonomia.

- Internação hospitalar, quando o paciente se encontra em crises graves, ou com sintomas severos da doença.

Tratamento pelo SUS – Conforme o site do Ministério da Saúde “O tratamento para a esquizofrenia no SUS passa principalmente pelos Centros de Atenção Psicossocial (Caps), onde as pessoas são acolhidas, sejam elas encaminhadas por outros serviços ou por meio de demanda espontânea. Anualmente, o Governo Federal investe mais de R$ 794 milhões para o custeio de 2.731 centros espalhados pelo país”

Famosos portadores de Esquizofrenia

John Forbes Nash - O famoso matemático e economista, começou a mostrar sinais de esquizofrenia em 1958, aos 30 anos. Em 1959, após ser internado no Hospital McLean (que abrigava pacientes como professores de Harvard e pessoas famosas), foi diagnosticado com esquizofrenia paranoide Em 1994, John Nash ganhou o Prêmio Nobel de Ciências da Economia. Era considerado um gênio. O premiado filme Uma Mente Brilhante foi feito baseado em sua luta contra a doença.

Syd Barrett - Um dos membros fundadores do Pink Floyd, Barret, passou a manifestar sintomas de esquizofrenia depois de experiências com LSD, em 1968.

Jack Kerouac - Um do líderes do movimento literário conhecido como geração beat, o famoso escritor da geração dos anos 50, que escreveu On the Road, foi diagnosticado com esquizofrenia quando tinha 21 anos.

Brian Wilson – O líder do The Beach Boys (banda de rock norte-americana formada em 1961), foi diagnosticado com esquizofrenia no auge da carreira, após sofrer um colapso nervoso durante um vôo.

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Tom Hardy - Ator britânico, protagonista dos filmes “Mad Max: Estrada da Fúria”, “Venom”, e “Venom: Tempo de Carnificina”. Atuou também em “Batman, o Cavaleiro das Trevas Ressurge”; e “O Regresso”. Foi diagnosticado com esquizofrenia aos 15 anos de idade.

Peter Green - Guitarrista e fundador da banda de britânica de rock Fleetwood Mac, fundada em 1967. Green acabou sendo diagnosticado com esquizofrenia e foi submetido a terapias eletroconvulsivas ao longo da década de 1970.

Zelda Fitzgerald – Nascida em 1900, foi uma romancista, contista, poetisa, dançarina, pintora e socialite norte-americana, além de esposa do escritor F. Scott Fitzgerald. Zelda foi um ícone na década de 20, apelidada pelo marido de primeira melindrosa americana. Em abril de 1930, Zelda foi internada em um sanatório na França, onde, depois de meses de observação e tratamento, foi diagnosticada como portadora de esquizofrenia.

Ouçam Nossas Vozes

Em 2019, a Janssen do Brasil, em parceria com o Programa de Esquizofrenia (PROESQ) da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), a Associação Gaúcha de Familiares e Pacientes Esquizofrênicos (Agafape), a Associação Mãos de Mães de Pessoas com Esquizofrenia (AMME), a Associação de Crônicos do Dia a Dia (CDD), deu início a campanha “Ouçam Nossas Vozes”, com o objetivo de conscientizar a população sobre a importância de combater os estigmas atribuídos pela sociedade aos portadores de esquizofrenia.

Em 2021, o artista Allyson Mariano, que é portador da doença, compôs a música “Ouçam Nossas Vozes”, especialmente para a campanha. O músico Nando Reis foi responsável pelo arranjo, e juntou sua voz, às vozes de Alysson, e de outras personalidades, na interpretação da música.

Link da música no youtube: https://www.youtube.com/watch?v=NRjevsxIs8o

Termino este texto parafraseando o artista Allyson Mariano: “Ouçam nossas vozes, para entender, vencer o limite, entre nós e você”.

Texto escrito pelo Produtor Cultural Omar Dimbarre, portador de esquizofrenia, e analisado e aprovado pelos profissionais da saúde mental do Caps de Herval d´Oeste: Psiquiatra João Felipe Molossi, Terapeuta Ocupacional Aline C. Wudarski da Rosa, e Psicólogo Carlos André Lemos.  

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