Prefeito de Florianópolis tenta reverter afastamento e nega envolvimento em esquema investigado pela PF

O político ficou menos de 24 horas preso e foi liberado depois de prestar depoimento.

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Prefeito Gean Loureiro em entrevista ao Bom Dia Santa Catarina nesta quarta-feira - Imagens: Foto: Reprodução/ NSC TV
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O prefeito de Florianópolis, Gean Loureiro (sem partido, ex-filiado ao MDB), afastado das funções de chefe do Executivo municipal por determinação da Justiça Federal, falou em entrevista ao Bom Dia Santa Catarina nesta quarta-feira (19) sobre o mandado de prisão temporária de que foi alvo na terça-feira (18).

O político ficou menos de 24 horas preso e foi liberado depois de prestar depoimento. Na entrevista, ele negou qualquer relação em fazer parte de um grupo criminoso que violava o sigilo de operações policiais em Santa Catarina investigado na Operação Chabu. Injusta porque eu não sabia de nenhum dos fatos relacionados a operação, disse.

Por enquanto, quem assume o cargo interinamente é o vice-prefeito João Batista Nunes (PSDB). Segundo o prefeito, nesta quarta-feira a defesa irá até o Tribunal Regional da 4ª Região (TRF4), em Porto Alegre (RS), para tentar reverter a decisão judicial sobre o afastamento da prefeitura.

Loureiro disse que foi liberado porque a PF não viu indícios para mantê-lo preso. A assessoria do TRF4 informou que o desembargador concedeu ao delegado a possibilidade de relaxamento da prisão e a polícia não quis dar informações sobre o caso. Ele também entregou os passaportes para a polícia.

Durante a entrevista, o político falou sobre pontos abordados no depoimento como: oferta de fundo internacional de recursos, 'salas seguras' e do suposto envolvimento no esquema investigado.

Confira trechos da entrevista:

O prefeito considerou que a prisão dele foi injusta, tanto com ele e quanto com a família dele.

Segundo foi comprovado, tudo aquilo que poderia ser apontado como envolvimento no próprio depoimento foi desfeito, demonstrando que não havia necessidade da prisão temporária, onde o próprio delegado que tinha solicitado, volta atrás e diz que não precisa ser executada a prisão.

  • Projeto Meta 21

Gean Loureiro esclareceu o que é o Projeto Meta 21, um dos pontos abordados nos questionamentos da PF durante o depoimento citado pelo político.

Há cerca de um ano me procuraram dizendo que tinha um fundo internacional de recursos para investir em prefeituras do Brasil. Se eu poderia participar de uma reunião para conhecer esse projeto. Eu fui, apresentaram um projeto, falaram de milhões de reais que viriam para o Brasil de um fundo, sem contrapartida, que poderia ser investimentos em qualquer área das cidades, que esse dinheiro estava para chegar no Brasil. Pediram a apresentação de um plano de trabalho para mim. Quando a nossa equipe analisou, viu que não tinham fundamento essas informações. Nós acabamos não apresentando o plano de trabalho. O único do documento que existe é um documento da prefeitura dizendo que poderia participar do Meta 21.

  • 'Sala segura'
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Outro ponto da investigação envolve a montagem de 'salas seguras' à prova de monitoramento, que estaria instalada dentro da prefeitura.

“Parece piada, filme de investigação. Eu também estou tentando descobrir até hoje. Quando o delegado falou para mim eu nem tinha noção do que eram esses equipamentos que ele falava. Não existe nenhuma sala segura dentro do meu gabinete, da prefeitura. Nunca teve isso, nunca teve hipótese disso. Nunca precisei. Na prefeitura entra e sai todo mundo, a hora que quer. Tanto que a Polícia Federal foi a prefeitura, ligou para o vice-prefeito, foram com todos os técnicos especialistas, ficaram por mais de 3h na prefeitura, olharam toda a estrutura de fiação, ar-condicionado e confirmaram que essa sala segura não existe”.

  • Participação negada

O prefeito nega que tenha participado de qualquer grupo para tentar obstruir informações policiais.

É obvio que eu nunca participei. Como é que poderia ter a minha participação, minha influência para vazamento de informações, fico perguntando como isso poderia acontecer. A prefeitura não tem nenhum contrato com qualquer um dos envolvidos. Não há desvio de recurso público em nenhum fato. Não há apontamento de ato de corrupção, roubo ou qualquer coisa desse tipo. A investigação trata apenas do relacionamento e do uso do meu nome me conversa entre eles. É óbvio que a polícia precisava ter o meu depoimento para ter essa confirmação que não tinha o envolvimento.

O prefeito disse que conhece alguns dos investigados e presos durante a Operação Chabu.

Eu conhecia o ex-secretário Luciano [Luciano Veloso Lima, que foi secretário da Casa Civil no governo estadual Eduardo Moreira (MDB)]. O Zé Augusto [José Augusto Alves], que participa das campanhas, é conhecido por todos na cidade e o delegado, eu conheci quando foi apresentado o 'Projeto Meta 21'. Ele estava junto com os representantes.

  • Operação Eclipse
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O prefeito comentou sobre a Operação Eclipse, deflagrada em agosto de 2018, pela Polícia Federal e sobre a relação dele com os investigados.

Eu nem tinha ouvido falar da Operação Eclipse. No depoimento, o delegado não perguntou sobre essa operação. Perguntou sobre outra operação, a qual os nomes que ele falava eu nunca tinha ouvido falar na minha vida. Deixei muito claro que não tinha nenhuma relação com esse tipo de operação. Não tenho relação com as pessoas, nunca fui envolvido em nenhum caso para ter qualquer tipo de informação privilegiada ou repassar informação privilegiada. Me pareceu que tudo isso acabou sendo uma grande injustiça. Entendo o papel do poder judiciário, respeito o poder judiciário, a Polícia Federal, que foi correta. Foram na minha casa, olharam documentos, viram que não existia nada, pediram meu telefone, eu forneci. Forneci a senha para ter acesso. Perguntei se precisava de mais alguma coisa, falaram que não precisava, mas era preciso o depoimento. Fiz o depoimento, respondi tudo, perguntei ao delegado se precisava voltar outro dia, que estaria a disposição. E eles mesmo disseram que dentro dos fatos e após os outros depoimentos, cruzando as informações, não havia necessidade da prisão e que imediatamente seria liberado”.

  • Afastamento

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“O próprio delegado me explicou que a decisão dava autorização para ele, entendendo a situação e não tendo envolvimento do prefeito, poder liberar o prefeito de uma eventual prisão, que acabou acontecendo. A decisão do afastamento de 30 dias do cargo tem que ser modificada pelo desembargador que concedeu. O delegado não tem essa autonomia. Hoje meu advogado já está indo para Porto Alegre. Deve protocolar no início da tarde o pedido de revogação da prisão. Eu não tenho dúvida que hoje ainda, o desembargador deva revogar isso e continuar a normalidade da minha atuação como prefeito”.

Apuração da PF

Após analisar os materiais apreendidos durante a Operação Eclipse, deflagrada em agosto de 2018, a PF apurou que o grupo suspeito naquele caso construiu uma rede com núcleo político, empresários, e servidores da PF e da PRF lotados em órgão de inteligência e investigação, para dificultar investigações em curso. Haveria ainda a intenção de proteger o núcleo político em troca de vantagens financeiras e políticas.

A Chabu foi deflagrada pela PF na terça-feira e cumpriu sete mandados de prisão temporária em Florianópolis e Porto Alegre (RS). A polícia afirma que as investigações apontaram para crimes como de vazamento de informações sobre operações policiais ainda sem terem sido deflagradas e contrabando de equipamentos de contra inteligência para montar 'salas seguras' à prova de monitoramento em órgãos públicos e empresas.

Além do prefeito, também foi liberado na noite de terça o policial rodoviário federal Marcelo Roberto Paiva Winter, diretor de comunicação do sindicato da categoria (SINPRF-SC). A informação foi confirmada pela PF.

Os outros presos temporariamente são:

  • Fernando Caieron, delegado da PF, preso em Porto Alegre (RS);
  • Luciano Veloso Lima, que foi secretário da Casa Civil no governo de Eduardo Moreira (MDB);
  • Hélio Sant'Anna e Silva Júnior, delegado aposentado da Polícia Federal;
  • José Augusto Alves, empresário;
  • Luciano da Cunha Teixeira.

Foram expedidos ainda 23 mandados de busca e apreensão, cumpridos na empresa de tecnologia Grupo Nexxera, em Florianópolis, na Prefeitura da capital, e no gabinete e na casa do prefeito. O processo corre em segredo de Justiça.

Fonte:

G1/SC

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