Moro anuncia demissão por interferência política na Polícia Federal

Moro afirmou que avisou Bolsonaro que troca no comando da PF seria uma interferência política e o presidente disse que era mesmo.

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Moro: ele fez pronunciamento nesta manhã (Ueslei Marcelino/Reuters)
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O ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, anunciou sua demissão do cargo nesta sexta-feira, 24. Em pronunciamento, ele fez um balanço de seu trabalho à frente da pasta e relembrou que quando aceitou assumir o ministério, o presidente garantiu que ele teria “carta-branca”.

O estopim para a decisão de sua saída foi a confirmação da demissão do diretor-geral da PF, Maurício Valeixo. Em sua fala, Moro citou diversas vezes que Bolsonaro tentou interferir na Polícia Federal. “Avisei que seria uma interferência política e Bolsonaro disse que era mesmo”.

“Não é tanto a questão de quem colocar, mas de porque trocar e permitir que seja feita interferência politica no âmbito da Polícia Federal”, sustentou. A exoneração de Valeixo disse Moro, é uma “sinalização que o presidente também me quer fora do cargo” e que ele não teria como aceitar essa substituição. “Isso foi ofensivo”, disse Moro sobre não ter ficado sabendo sobre a exoneração de Valeixo.

Moro citou, ainda, que por conta de seu passado como juiz e seu “compromisso com estado de direito”, ele acreditou que poderia ser um “garantidor da lei, da imparcialidade e autonomia das instituições” dentro do governo. O ex-juiz defendeu que “precisa preservar sua biografia”.

Antes de garantir sua saída, ele citou o número de mortes pelo novo coronavírus no Brasil e lamentou ter que fazer esse anúncio no meio da pandemia. Moro revelou, ainda, que a única contrapartida que fez a Bolsonaro foi garantir que sua família não ficasse desamparada, já que ele iria perder a previdência que contribuiu por 22 anos de magistratura.

Ao final do pronunciamento, o ex-juiz deixou o cargo anunciando sua exoneração.

Ainda não foi anunciado quem assumirá o cargo de ministro da Justiça e Segurança Pública, mas Anderson França, secretário de Segurança Pública do Distrito Federal, e Alberto Fraga são nomes que estão em avaliação.

Revés

A decisão de Moro, um dos ministros mais populares do governo, é um revés para o presidente Jair Bolsonaro, já que a ida dele para Brasília foi considerada um “gol de placa” do presidente por ter na sua gestão um símbolo de combate à corrupção.

A decisão de Moro ocorre após a confirmação da demissão do diretor-geral da Polícia Federal, Maurício Valeixo, pelo presidente Jair Bolsonaro publicada em edição extra do Diário Oficial da União na madrugada desta sexta-feira.

Na véspera, em reunião no Palácio do Planalto pela manhã, o presidente avisou a Moro que demitiria o diretor-geral da Polícia Federal e o ministro chegou a dizer que não via motivos para continuar no cargo sem a permanência de Valeixo.

Os ministros da Casa Civil, Braga Netto, do Gabinete de Segurança Institucional, Augusto Heleno, e da Secretaria de Governo, Luiz Eduardo Ramos, começaram a atuar então para garantir a permanência de Moro e passaram a buscar uma solução que atendesse tanto ao ministro da Justiça quanto ao presidente.

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Posteriormente, Moro sinalizou nos bastidores que poderia permanecer no cargo, caso fosse responsável pela escolha do sucessor de Valeixo.

A saída de Moro do governo é a segunda baixa no alto escalão de Bolsonaro em cerca de uma semana. Na quinta-feira da semana passada, Bolsonaro demitiu Luiz Henrique Mandetta do comando do Ministério da Saúde em meio à pandemia de coronavírus e colocou em seu lugar o oncologista Nelson Teich.

Histórico

Maior ícone da Operação Lava Jato, que colocou algumas das principais figuras políticas e empresariais do país na cadeia, Moro abandonou uma carreira de 24 anos como juiz federal para ser ministro.

A promessa era de que ele teria carta branca e estaria no comando de um superministério turbinado com a pasta da Segurança Pública e novas atribuições de combate à lavagem de dinheiro por meio da incorporação do Coaf.

No entanto, o período de Moro como ministro acabou sendo chamuscado por conflitos com o chefe, derrotas políticas e revelações sobre seu passado.

Mensagens privadas vazadas pelo site The Incercept em parceria com outros veículos de imprensa deixaram clara a proximidade do então juiz Moro com procuradores e revelaram episódios de parcialidade e direcionamento das investigações.

O Pacote Anticrime, principal bandeira legislativa de Moro, foi desidratado pelo Congresso, que também transferiu o Coaf primeiro para o Ministério da Economia e depois para o Banco Central.

Visto como uma espécie de seguro contra casos de corrupção ou uma possível escalada autoritária de Bolsonaro, o ministro não se colocou publicamente nos principais episódios de agravamento da tensão institucional e também evitou comentar as denúncias envolvendo os filhos e aliados do presidente.

Fonte:

Exame

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