Médica fala sobre alcoolismo e explica qual é a quantidade de álcool diária considerada aceitável
Segundo a OMS, 3,3 milhões de pessoas morrem todos os anos pelas consequências do álcool no mundo.
Embora o consumo de álcool seja algo romantizado em nossa sociedade, sendo, inclusive, associado à juventude, bem-estar, vida social agradável e sucesso pessoal, esta substância é uma droga que, se consumida em excesso, pode provocar inúmeros problemas de saúde física e psicológica. “Quando há exagero, em vez de trazer felicidade como sugerido pelas campanhas publicitárias, o álcool pode destruir famílias e vidas profissionais”, afirma Dra. Lívia Salomé, médica especialista em Medicina do Estilo de Vida pela Universidade de Harvard e vice-presidente da Regional Minas Gerais do Colégio Brasileiro de Medicina do Estilo de Vida.
Conforme ela explica, o alcoolismo é uma doença crônica capaz de levar o paciente a outras complicações orgânicas, como a cirrose e a hepatite. “Trata-se de uma condição em que o indivíduo faz uso constante, abusivo e descontrolado desse tipo de bebida. Aos poucos, o organismo perde a sensibilidade ao álcool e o paciente aumenta cada vez mais a quantidade ingerida, o que faz com que seu vício seja progressivo”, esclarece a médica.
O álcool é um depressor do sistema nervoso central, ou seja, uma substância que diminui a atividade do cérebro, alterando a ação de neurotransmissores, como o ácido gama-aminobutírico - GABA - e a serotonina. À medida em que a pessoa ingere a bebida, o organismo reage de uma determinada forma, seguindo alguns estágios.
“Quando a concentração de álcool no sangue é baixa (entre 0,01 e 0,12 gramas/100 mililitros), o indivíduo tende a ficar desinibido, relaxado e eufórico. Se esta quantidade aumenta, outras reações aparecem, como lentidão dos reflexos, problemas de atenção, perda de memória, alterações na capacidade de raciocínio e falta de equilíbrio”, detalha Dra. Livia. Em níveis muito altos (a partir de 0,40 gramas/100 mililitros), ela alerta para a intoxicação severa e parada cardiorrespiratória, com possibilidade de sequelas neurológicas e até mesmo morte.
Para se ter uma ideia da gravidade do alcoolismo, de acordo com a Organização Mundial de Saúde, 3,3 milhões de pessoas morrem todos os anos pelas consequências do álcool no mundo – sendo por doenças ou por acidentes de diversos tipos.
Dra. Lívia lembra ainda que há muitas dúvidas entre a população sobre o que é o consumo excessivo. Para ela, um etilista moderado é a pessoa que bebe álcool, mas o faz de forma esporádica ou em pequena quantidade: cerca de um ou dois drinks por dia, por no máximo 5 dias não consecutivos da semana.
“Já o etilista pesado é aquele que bebe álcool em quantidades sabidamente prejudiciais ao organismo. Por exemplo, quem consome mais de sete doses por semana para mulheres ou mais de 14 drinks por semana para homens”, diz ela.
Há outros parâmetros para definir quando se está abusando do álcool. Por exemplo, quem bebe pelo menos uma vez por semana mais de três doses em um único dia, no caso das mulheres, ou mais de quatro doses em um único dia, no caso dos homens. É o caso de prestar atenção também quando a pessoa possui um episódio de embriaguez por semana, ou que consomem mais de 20 dias seguidos de bebidas alcoólicas em qualquer quantidade.
Traduzindo para a linguagem popular, considera-se uma dose a medida de qualquer bebida que contenha cerca de 14 gramas de álcool - isto equivale a uma taça de vinho (150 ml com teor alcoólico de 12%), uma lata de cerveja (350 ml com teor alcoólico de 5%) ou 45 ml de uísque (uma dose com teor alcoólico de 40%).
“O consumo excessivo de bebidas alcoólicas expõe o indivíduo a um elevado risco de desenvolver problemas de saúde além do alcoolismo. Entre eles, estão o câncer e disfunções de órgãos importantes, tais como fígado, coração ou cérebro”, alerta a especialista em Medicina do Estilo de Vida.
Para tratar o alcoolismo, é preciso escolher as terapias conforme o nível de gravidade do quadro. Nessa perspectiva, é preciso contar com uma equipe multidisciplinar de saúde composta por médicos clínicos, psiquiatras, psicólogos, terapeutas ocupacionais, assistentes sociais e outros. “O objetivo é que todos fortaleçam e auxiliem o paciente na recuperação da estabilidade mental para vencer a doença. A Dra. Lívia explica também que medicamentos podem ser complementares às demais terapias para apoiar na desintoxicação do organismo. “Por isso, é fundamental obter o diagnóstico correto para a avaliação da necessidade ou não de remédios”, conclui a especialista.