Leda Silva Kerber – A Voz da SCAJHO

Na Coluna Cultura em Cena o Produtor Cultural Omar Dimbarre apresenta a história de um dos pilares da cultura de Joaçaba e região.

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A Lua Crescente se preparava para se despedir no horizonte, enquanto seus últimos raios banhavam a cidade gaúcha de Carazinho, quebrando ligeiramente a escuridão do céu. Os ponteiros do relógio pendurado na parede da sala, bailando em cadência, se aproximavam da meia-noite, encerrando a celebração natalina, quando a nova filha que Dona Marieta abrigava em seu ventre, iniciou sua jornada rumo à vida.

E, antes que o marcador do tempo anunciasse com doze badaladas que o dia havia terminado, uma menina radiante banhou-se em luz, encerrando de forma magistral as celebrações do dia 25 de dezembro de 1941. 

Leda Silva Kerber nasceu no Natal, mas, seu nascimento foi registrado com a data de 26 de dezembro.

A mãe de Leda, Marieta Silva Kerber, nasceu em Joaçaba, e o pai, Felipe Emílio Kerber, veio ao mundo em São João do Montenegro, no Rio Grande do Sul.

O Senhor Destino, arquitetando seus planos e, assim, moldando histórias, levou, certo dia, Felipe a desembarcar no meio-oeste catarinense e a estabelecer moradia na mesma cidade em que vivia Dona Marieta. Na época, Joaçaba ainda era uma vila chamada Cruzeiro do Sul, sede do município de Cruzeiro.

O aventureiro Felipe empregou-se na empresa do comerciante Artur Pereira, uma grande loja de secos e molhados, ferragens, louças, tintas, óleos, armarinhos e calçados. Marieta, uma bela moça, costumava fazer compras no estabelecimento, e sua formosura encantou o jovem gaúcho, que, ao avistá-la chegando, corria para atendê-la, com os olhos brilhando, fixos em sua amada e esboçando um largo sorriso que expressava toda a felicidade que sentia naquele momento. Os galanteios do entusiasmado balconista conquistaram o coração da graciosa cliente, que também sucumbiu à paixão.

Marieta e Felipe, arrebatados um pelo outro, resolveram fundir suas histórias, casaram-se e, com seus destinos entrelaçados, partiram para construir seus futuros em Carazinho. E foi na cidade gaúcha que os frutos dessa união rebentaram. Myriam foi a primeira filha a chegar. Seguiram-se Osvaldo, Waldomiro e Leda. Após o nascimento de Leda, mais seis filhos completaram a lista: Iracema, José Waldomiro, João Emílio, Nilo Sérgio, Cláudio Ivan e Vânia. 

Leda ainda não havia rompido o ventre de sua mãe quando seus dias começaram a ser preenchidos por suaves melodias. Marieta e Felipe eram fascinados por música clássica e serestas, e sintonizavam a rádio El Dorado, de São Paulo. As notas musicais se espalhavam harmoniosamente, preenchendo todo o ambiente e galopando em direção à rua, encantando as pessoas que por ali transitavam. 

E aquilo, decerto, entrou em mim também. Eu vim com aquela vontade de cantar, que até hoje vivo cantando, assobiando, rindo, e sempre assim. 

O mundo ainda era um local repleto de magia para Leda, uma criança de dois anos cheia de curiosidade, que explorava tudo ao seu redor e realizava novas descobertas a todo momento. Foi então que Felipe, com o peito cheio de saudade de seus pais que moravam em Caçador, decidiu fincar suas raízes em um lugar mais próximo.

Juntou sua família e, com os pés na estrada, pegou o rumo do norte até desembarcarem na localidade de Gramado, atualmente, distrito de Rio das Antas. O pai montou um pequeno comércio e, mais tarde, conseguiu um emprego de fiscal de coletoria. Sempre em busca de melhores condições financeiras para proporcionar uma vida melhor aos seus familiares, Felipe mudou-se com seus entes queridos para Ipoméia, uma vila próxima, onde foi nomeado exator estadual. 

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Ali, nós vivemos por muitos anos. Ipoméia é uma vila muito boa para morar. Eu adoro aquela terra e aprendi muita coisa. Eu saí de lá mais ou menos com 18 ou 19 anos.

O Despertar para o Canto

Todo dia, quando o sol se preparava para dar seu último espetáculo, tingindo o céu de laranja e vermelho antes de se esconder atrás do horizonte, a menina Leda, então com oito anos, tal como os pássaros que cantam ao entardecer antes de se recolherem para o sono, escalava uma grande pedra no quintal da casa onde residiam em Ipoméia e se preparava para iniciar o seu show.

Leda tinha o céu como inspiração. Contemplando as nuvens e as figuras que elas formavam enquanto dançavam nas alturas, ela libertava sua voz com força: “Noite alta, céu risonho, a quietude é quase um sonho.” Seu canto pegava carona no vento, espalhando-se por vielas e ruas, penetrando nas casas e semeando emoções por onde passava.

E os vizinhos iam escutar. Belinski, aquela turma toda me falou mais tarde: 'Poxa, Leda, que saudade deu quando você foi embora. Você cantava no entardecer.'

Seu Kempa e a Soprano

Seu Kempa trabalhava em uma fábrica de gaitas em Joaçaba e era ministro da Igreja Presbiteriana, dedicado a propagar a palavra de Deus. Amigo de Seu Felipe, costumava visitar Ipoméia. Em uma de suas passagens, ele preparou um canto muito bonito para o culto e reuniu cerca de 30 pessoas, entre meninas, mocinhas e adultos da localidade, para um ensaio.

A música era assim: 'Luz do mundo, Jesus Cristo. Vem, dissipa as ilusões. Tira o véu dos nossos olhos.'

A menina Leda ensaiou e, no momento de cantar, soltou a voz em uma tonalidade alta e aguda, de forma resplandecente. Os demais cantores do coral, atônitos com o que testemunharam, emudeceram. Seu Kempa, embevecido, bradou: 'Meu Deus do céu! Esta menina é soprano.' 

Leda, ao ouvir tal comentário, sem entender nada, entrou em desespero. 

Como eu morava no interior, não sabia o que era soprano, contralto, baixo ou tenor. Eu não sabia nada disso. Comecei a chorar e saí correndo de lá. Me escondi. Eu não sabia nada de música (nunca tinha cantado assim). Saiu aquilo. Saiu aquela nota aguda. Eu posso dizer que fiquei traumatizada.

Hora de Trabalhar 

Quando eu era pequena, com 8 anos, já trabalhava na contabilidade do meu pai em Ipoméia, ajudando a preencher as vendas à vista com a letrinha de criança. Meu pai tinha uma coletoria e eu tinha uma sala. Ele ficava fazendo contabilidade na outra sala, enquanto eu preenchia as vendas à vista ou os talões de impostos — predial, territorial, essas coisas; tudo caía na coletoria. Nós cobrávamos dos contribuintes que chegavam lá para pagar os impostos. Esse tempo foi tão bom!

Com 14 anos, eu dava aula no Grupo Escolar Professora Josefina Kreff. Eu lecionava Português, Matemática e Conhecimentos Gerais, tudo de uma vez só. Aqui em Joaçaba, encontrei alunos do meu tempo. Era tão bom dar aula! Eu não parei. Estou com 82 anos e ainda não parei.

Itajaí

Meu pai foi transferido para Itajaí como escrivão. Eu tinha 17 anos ou menos. Moramos em Itajaí um bom tempo, mas meu pai não estava muito bem de saúde e pediu transferência para o oeste. Ele foi transferido para Seara, onde ficamos um bom tempo. Daí, falei que meu pai era político, né? Naquela época, existia o troca-troca de funcionários que não eram partidários do partido vencedor (UDN ou PSD) para locais e até com cargos inferiores em outras cidades. Quando meu pai se aposentou, estava lotado como exator estadual em Joinville.

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Fiquei um tempo dando aula e também tinha outras atividades que eu já realizava. Eu era uma menina ainda e já trabalhava na cultura. Havia um grupo de senhoras que tinha um clube que trabalhava para a comunidade, chamado Grêmio das Rosas. Era a esposa do escrivão da cidade, mais uma senhora, e eu era a secretária, secretariando aos 14 anos de idade. Foi ali que tudo começou. A minha vida foi assim: nunca tive paradas, eu nunca estacionei. Tive poucas possibilidades quando era pequena, mas a gente abria caminhos.

Noite Feliz - Abertura do Natal

A temporada natalina havia chegado novamente, trazendo consigo celebrações e festividades, unindo os povos em sinal de solidariedade, fraternidade, amor e paz.

Em Itajaí, os ensaios para a abertura do Natal eram realizados em frente à Catedral e reuniam corais de todas as igrejas da cidade. A Igreja Presbiteriana preparou uma abertura muito bonita, embalada pela música “Noite Feliz.” Leda, apesar de não ser presbiteriana, integrava o coral, com o intuito de aprimorar a sua voz.

A regente, na hora de escolher a solista, voltou seu olhar para Leda e proclamou: Você vai cantar! Aquela frase imperativa desconcertou a jovem cantora, que, assustada e com a voz trêmula, indagou: Eu? — Você vai cantar! frisou novamente.

Lentamente, os dias foram se arrastando até que chegasse o momento da grande exibição, com todos os corais reunidos. Leda não conseguia segurar o nervosismo pela imensa responsabilidade de realizar o primeiro solo de sua vida diante da multidão que aguardava ansiosamente o início da apresentação. 

De repente, uma pessoa emergiu do grupo que estava gravando o evento, aproximou-se de Leda e iniciou uma conversa. 

— Menina, você vai fazer um solo, né? Você está nervosa?

— Eu acho que não vou conseguir, respondeu a cantora.

— Vai! Porque, quando você for cantar, você vai olhar só para mim, na mesa de transmissão. Não olhe para ninguém. Olhe só para mim, que você vai sentir firmeza, respondeu Afonso Luiz, locutor da Rádio Catarinense de Joaçaba.

E aí, na hora de cantar ‘Noite Feliz’, eu olhava só para ele. E deu tudo certinho. Então foi esse o primeiro solo da minha vida. E depois eu rodei por este Brasil inteiro, e continuo até hoje.

Joaçaba

Iniciei minha vida profissional como caixa das Casas Pernambucanas em Concórdia e acabei sendo transferida para a filial de Joaçaba. Trabalhei muitos anos nas Pernambucanas e, um dia, vi que havia um concurso público para trabalhar na Prefeitura Municipal de Joaçaba. Fiz a prova para o cargo de escriturária e passei.

Saí das Pernambucanas e fui trabalhar na Prefeitura. Não lembro mais da minha idade. Era bonitinha, novinha ainda. Então, fui para a Prefeitura, mas não quis ficar em um só setor. Aprendi no Incra; passei por todos os setores para aprender mais. Não gosto de ficar apenas fazendo uma coisa. Tenho curiosidade de aprender mais e, mais tarde, peguei a contabilidade. Só que era assim: tinha uma máquina Olivetti, e ela era enorme. Isso me causou um problema no braço. Acharam que era câncer. Fui parar em Curitiba. Diziam: “Acho que é câncer.” Eu dizia: “Acho que não. Era adenoma benigno. Era do movimento do braço. Fiquei um tempo assim, meio doente, mas continuei trabalhando. Esse trecho foi ruim para mim e me judiou bastante. Tive que fazer tratamento. Eu gostava do trabalho. O Djalma Hack era meu chefe. Era uma pessoa muito fina, muito educada.

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Trabalhei com seu Raul, seu Evandro e seu Alfredo, que era secretário de Educação e Cultura. Já era meu maestro, pois eu já estava na SCAJHO. Ele já era meu maestro.

Aposentei-me desse cargo em 1994 e parti para trabalhar na cultura artística, onde sou fixa até hoje, especialmente na SCAJHO, onde sou assessora geral nas atividades. Nas diretorias, sempre fiz parte, por décadas, como secretária, diretora artística, diretora de canto e, na última reunião de diretoria, fui nomeada assessora geral do Teatro na SCAJHO (Sociedade de Cultura Artística de Joaçaba e Herval d'Oeste). Depois, quando me aposentei, dediquei quase todo o meu tempo ao serviço voluntário, sem remuneração, na SCAJHO/Teatro. Antes mesmo de me aposentar, já trabalhava, após o expediente profissional, no teatro inacabado. Em seguida, solicitei ao prefeito permissão para me ausentar da prefeitura e transferir meu trabalho para o Teatro, o que me foi concedido.

Musicalmente, participei do Canto Carol, do Grupo Cênico de Cantores, e fui solista da Orquestra de Concerto.

Canto Coral

Faz mais ou menos 45 anos que trabalho como maestrina/regente de corais em Joaçaba e região. O canto coral sempre fez parte graciosamente de mim. Nunca fui remunerada, pois me propus a doar de mim o que recebi de Deus: o dom do canto e, posteriormente, da regência, de forma gratuita. Hoje, os professores de canto são pagos pelo seu trabalho, mas, quanto aos corais que assumi, nada tenho cobrado.

SCAJHO

As raízes do canto, que começaram a brotar na infância de Leda, penetraram profundamente em sua alma, tornando-se uma parte intrínseca de sua vida. Cantar era tão essencial quanto respirar; como se alimentar. Para ela, cantar era viver.

Certa vez, enquanto entoava uma melodia e lavava as calçadas, seu vizinho, Dr. Adolfo Maresch, encantado com sua voz, convidou-a para um ensaio da SCAJHO no Clube Cruzeiro. Ao chegar, o maestro Alfredo Sigwalt realizou um teste e, imediatamente, aprovou Leda, que assim se juntou ao coral.

Durante os ensaios, o maestro costumava perguntar às solistas quem gostaria de cantar, e, muitas vezes, sua indagação não recebia respostas animadoras entre as participantes. No entanto, Leda se destacava: sempre entusiasmada e pronta para aceitar o desafio. Dessa forma, ela foi se consolidando como solista.

Até a ‘Viúva Alegre’ eu fui. É uma opereta muito linda, e eu era a viúva. Os tenores Tuphy Peres Abrão e Olindo Achiles Cassol participaram, assim como as outras duas sopranos, Aniezi Pessini e Adelise Massiganani.

Seu Maresch era um homem sábio. Ele era reitor da Universidade e me levou; e, olha, estou até hoje na SCAJHO. Entrei em 1954. Se tem uma coisa que eu gostei de fazer, foi participar da SCAJHO. Aquilo ali era uma potência; você não pode nem imaginar o que era a SCAJHO. Nós íamos em três ônibus. Fomos para Santo Ângelo, na Vila de São Miguel. e entre as solistas, fui só eu. Cantei até cansar.

Levei e levo o nome da SCAJHO por onde passo, cantando em casamentos na Igreja Candelária, no Rio de Janeiro; na Igreja Cristo, em Porto Alegre; na Catedral de Piracicaba, no estado de São Paulo; na nossa catedral; e em igrejas da Bahia. Com a SCAJHO, em Santo Ângelo e Passo Fundo, no Rio Grande do Sul, e em Joinville. Ao todo, creio que já cantei em cerca de 6.000 casamentos.

Curso Universitário

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Depois, Dr. Adolfo Maresch foi meu professor na Universidade, no curso de Administração de Empresas. Em 1980, eu me formei. Então, comecei o curso de Direito, mas não me formei porque minha mãe teve depressão e não havia ninguém da família para ficar com ela. Aí fui esperando, esperando... Falta pouco para terminar; um dia, eu vou tentar. Um pouquinho antes do estágio, eu parei. Um dia, seu Maresch disse: — Quem de vocês, meus alunos, vai utilizar esses estudos? Eu respondi: — Professor, eu vou. Eu vou administrar uma massa falida. — Mas como? Massa falida já está falida. — Eu vou levantá-la. O teatro. Antes de morrer, ele disse para mim: — Tu és baixinha, mas tens palavra, né? 

Teatro Alfredo Sigwalt

Em 1978, o sonho do maestro Alfredo Sigwalt de que Joaçaba tivesse seu próprio teatro — um espaço onde pudessem se apresentar artistas locais e consagrados nacionalmente — começava a ganhar forma. O maestro não sabia que o tempo para a conclusão dessa obra seria longo demais e que ele não chegaria a ver a plena concretização de seu anseio.

Cada tijolo erguido carregava os sonhos não apenas do maestro, mas de todos os joaçabenses, hervalenses e luzernenses que aspiravam a um espaço onde a arte pudesse florescer. Foram 25 anos de espera e, quando finalmente o pó da construção repousou em silêncio, suas paredes, antes apenas ideias traçadas em papel, passaram a vibrar com os espetáculos e aplausos que ali ganhariam vida. Joaçaba teve seu templo para a arte, pronto para ecoar vozes e acolher almas em cada novo ato.

Eu fui e fiquei naquele teatro. Foi um sonho aquilo lá. Era um espaço que encontrei em estado deplorável. Havia indigentes lá dentro. Havia de tudo o que se poderia imaginar. Então um dia, meu colega de faculdade de Direito, Tarcísio, que era o comandante dos bombeiros, entrou no teatro e, a partir de então, começou a ajudar, enviando soldados para dar mangueiradas (imagina o que tinha lá dentro com os indigentes e os drogados).

E daí o Tarcísio me mandava, de tempos em tempos, uns 20 soldados do Corpo de Bombeiros. Eles jogavam aquelas mangueiradas, e voavam seringa, voava de tudo o que você pode imaginar de sujeira. Os soldados me ajudavam. Mas era um fedor incrível; o que eu usava de creolina lá dentro, você nem imagina. Por isso, agradeço muito ao colega pela excelente ajuda.

Eu tinha comigo um grupo de capoeira, Aborigem Brasil, que levei para me ajudar a limpar. Seu Luiz Wieser estava passando pelo teatro, me viu lá dentro e ficou preocupado porque sabia que havia drogados e indigentes lá. Ele me disse que ia me ajudar e, então, mandou alguns funcionários levarem madeirites e troncos de árvores para fechar os buracos e frestas, impedindo, assim, a entrada daquelas pessoas. Mandou, se não me engano, a Eletro Instaladora de Luzerna colocar três pontos de luz. Assim, fiquei mais protegida, porque era tudo muito escuro. Devo muito a ele por tudo que fez naquela época.

Para ir ao teatro inacabado, daquele jeito que estava, juntei todas as minhas atividades: Grupo de Cantores da Terceira Idade, Grupo de Capoeira, Coral dos Jovens, Coral das Crianças, Banda Carlos Gomes, meus cantores das igrejas, cantores do Coral de Luzerna e o Coral Fratelli D'Italia. Então, nos reunimos muitas e muitas vezes em mutirão para a limpeza. Eu, graciosamente, comprava desinfetantes e sabão em pó, e começamos limpando o andar superior até lá embaixo. Eu pagava do meu bolso por tudo que tinha que gastar, como luz e outros custos. Eu não tinha família para sustentar. Quem viveu naquela época sabe.

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Uma pessoa da imprensa falou: — O que aquela mulher pensa naquele teatro? Será que ela acha que um dia vai levantar aquilo? Quem é ela? Onde está a cabeça daquela criatura? Ficar lá dentro e achar que vai fazer alguma coisa com aquele teatro? Antes de falecer, ela veio falar para mim: — Leda, desculpa, viu? Não sabia que uma baixinha igual a você tinha tanta fibra.

Eu pensava em formar uma diretoria. O seu Alfredo dizia: Leda, o teatro tá no fim, tá no fim. O teatro vai arrebentar tudo. Eu respondia: Não. Um sábado, ele chegou depois do meio-dia. Tinha terminado de almoçar e chegou chorando, frustrado por não ver seu sonho concretizado.

Eu disse: 'Seu Alfredo, senta aqui na mesa da cozinha.' E comecei a falar com ele: 'Seu Alfredo, vamos fazer uma última tentativa de formar uma diretoria.' E ele retrucou: 'Mas quem vai pegar essa diretoria?' Então, pedi que me fornecesse nomes que ele acreditava serem especiais.

Entrei em contato com essas pessoas maravilhosas que, embora, em um primeiro momento, se negassem a participar, depois concordaram, e o seu Osvaldo Theodoro Zendron assumiu a diretoria. 

Mas, antes de a nova diretoria começar a atuar, o Ivo Dallanora estava junto comigo; ele cantava com a gente. Chegou o Amin, e eu disse a ele: 'Amin, quanto é que você vai mandar para nós?' Ele respondeu: 'Tá terminando meu mandato, Leda.' Eu disse: 'Pois é, mas não vai deixar a gente sem nada.' Ele respondeu: 'Bom, vou te mandar 140 mil.' Eu disse: 'Só no papel. Não me passe essa conversa.' Então, ele me disse: 'Mas, credo, que desconfiada! Vai lá no banco depois de amanhã que você baixa o dinheiro.'

Aquela turma do mutirão que eu convocava para limpar o teatro: muitos já estão no céu com Deus, outros estão mais velhinhos do que eu, e alguns ainda cantam no Coral da Maior Idade do Teatro. A maioria das crianças, hoje adultas, participa das Oficinas do Teatro. As crianças e eu saíamos do teatro, caminhando e cantando canções natalinas pelas ruas, nos bancos, nas casas de idosos, nas casas de pessoas acamadas, na frente dos prédios de Joaçaba, em Herval d'Oeste, na Rádio Catarinense, nas lojas e nas repartições públicas (fórum, delegacias de polícia, até no presídio). Os sentenciados choravam emocionados, e os 'papais-noéis' diziam: 'Não chorem, vocês vão voltar para casa um dia.' Até eu ficava comovida. 

Compositora

Eu sou compositora também. Tenho uma música registrada na Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro. A música é do Fratelli D'Italia. Regi o Fratelli D'Italia por 11 anos e meio, até a Covid. Depois, encerrou.

Trenzinho

O Trenzinho foi ideia minha e do Reginato. Comprei tecido vermelho para as sainhas das menininhas e para as bermudinhas dos meninos, e comprei os gorrinhos feitos. As blusinhas eram brancas. Anos mais tarde, o CDL nos presenteou com lindas camisetas e bombons para as crianças. Saímos para passear com essas crianças na rua. Agora, todo mundo reclama: ‘Cadê o Trenzinho? Leda, cadê o Trenzinho?’ Depois da Covid, eu fiquei com um pouco de medo de levar crianças assim, mas foi muito bonito.

Rogério Sganzerla

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Eu trabalhava na Prefeitura, e o Rogério Sganzerla foi lá e pediu para o seu Raul. Eu não lembro bem se era o seu Raul ou o Normélio que ele me dispensasse para eu ir à Rádio Catarinense fazer uma gravação. Ele ia fazer um curta-metragem. A música que eu cantei era assim: 'Lá longe, lá longe no mar, um barco ligeiro no mar, um barco ligeiro a navegar.' Então, estou lá na Rua Augusta, em São Paulo, assistindo a um filme que era lançamento, 'Gente como a Gente', com o Ingo, a filha do seu Rodolfo Klink, que era da SCAJHO, e mais uma turma de pilotos da Varig, quando começou assim, vindo um barco lá longe – lá longe, lá longe. O Ingo disse: ‘É a voz da Leda.’ E não é que era verdade! E o Rogério fez um curta ali em Irani, e eu era Maria Rosa. Eu nunca encontrei esses curtas. 

Cultura em Cena é uma coluna escrita pelo produtor cultural Omar Dimbarre, para destacar o que se faz no meio cultural da região.


Fonte:

Omar Dimbarre

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