Gravidade da crise do leite pode decretar fim da agricultura familiar no segmento, teme presidente da Faesc
Importação excessiva de leite em pó é considerada a principal causa para o cenário, afirma José Zeferino Pedrozo.
A situação preocupante do mercado brasileiro de leite em 2023 foi abordada pelo presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Santa Catarina (Faesc), José Zeferino Pedrozo, em artigo divulgado na tarde desta quarta-feira, dia 13 (leia na íntegra logo abaixo).
A persistente queda da remuneração dos produtores de leite de Santa Catarina vem fazendo com que milhares abandonem a atividade porque não encontram as condições mínimas de subsistência. Segundo ele, a produção diária é de 8,3 milhões de litros, mas os laticínios catarinenses têm capacidade para processar 13 milhões de litros por dia.
Receba as notícias em seu celular! Entre em nossa comunidade no WhatsApp - Clique Aqui!
A atividade leiteira está presente nos 295 municípios do estado, é uma das primeiras em importância social e a terceira em relevância econômica. A atual crise teria reduzido a base produtiva para 24 mil estabelecimentos rurais e envolve, direta ou indiretamente, 200 mil pessoas que vivem dessa atividade. Na década de 1990, de acordo com dados da Secretaria de Estado da Agricultura, o território catarinense tinha 75 mil produtores de leite.
“O novo quadro é tão grave que pode decretar o desaparecimento da agricultura familiar desse segmento da agropecuária barriga-verde. Em Santa Catarina a agricultura familiar se viabiliza devido a intensa exploração das atividades agropecuárias diversificadas, tendo a atividade leiteira como essencial por ser uma das únicas que asseguram renda mensal”, diz em um trecho do artigo.
O presidente também destaca que a política fiscal e outro fator que prejudica os laticínios catarinenses, pois a carga tributária incidente é 1,3 pontos percentuais acima da que pagam os vizinhos estados do Paraná e Rio Grande do Sul.
Leia o artigo na íntegra:
O mercado brasileiro do leite vive uma situação preocupante neste ano marcada pela excessiva importação de leite, de um lado, e pela persistente queda da remuneração dos produtores rurais, de outro.
A consequência mais dramática desse quadro é a constatação de que milhares de produtores de leite de Santa Catarina estão abandonando a atividade porque não encontram as condições mínimas de subsistência.
O novo quadro é tão grave que pode decretar o desaparecimento da agricultura familiar desse segmento da agropecuária barriga-verde. Em Santa Catarina a agricultura familiar se viabiliza devido a intensa exploração das atividades agropecuárias diversificadas, tendo a atividade leiteira como essencial por ser uma das únicas que asseguram renda mensal.
A causa mais visível da presente crise é o explosivo aumento da importação de leite em pó em 2023, que gerou pânico no setor lácteo brasileiro em razão dos impactos na competividade do pequeno e médio produtor de leite.
As importações brasileiras de lácteos, em 2023, praticamente duplicaram em relação ao mesmo período de 2022. Neste ano, o Brasil já importou principalmente da Argentina e do Uruguai 156.600 toneladas de lácteos no valor de 596 milhões de dólares.
O preço do leite no mercado mundial caiu e o real teve uma relativa valorização frente ao dólar. A associação desses dois fatores estimulou as importações e o preço no mercado interno desabou. Esse movimento é péssimo para o País porque pode levar à desorganização e inviabilidade da cadeia produtiva e a consequente expulsão dos pequenos produtores.
A maciça presença de leite importado no mercado interno provocou queda geral de preços, aniquilando a rentabilidade dos criadores de gado leiteiro e também das indústrias de captação, processamento e industrialização de leite.
A situação é grave e pode gerar uma nova onda de êxodo rural, como o País já viveu no passado. É incontestável que já ocorre intenso abandono da atividade leiteira por produtores rurais. Na década de 1990 – de acordo com dados da Secretaria de Estado da Agricultura – existiam em território catarinense 75.000 produtores de leite. A pandemia do novo coronavírus baixou esse contingente, em 2022, para menos de 30.000 produtores.
A atual crise teria reduzido ainda mais a base produtiva de pecuária leiteira que, atualmente, é sustentada por 24.000 estabelecimentos rurais e envolve, direta ou indiretamente, 200 mil pessoas que vivem dessa atividade.
A produção diária é de 8,3 milhões de litros o que representa um ingresso de 16 milhões de reais todos os dias na economia catarinense. A atividade leiteira está presente nos 295 municípios, é uma das primeiras em importância social e a terceira em relevância econômica.
A política fiscal também prejudica os laticínios catarinenses, pois a carga tributária incidente é 1,3 pontos percentuais acima daquela que pagam os vizinhos Estados do Paraná e do Rio Grande do Sul.
Os laticínios de Santa Catarina têm, no conjunto, capacidade instalada para processar 13 milhões de litros por dia, mas a captação de matéria-prima não passa de 8,3 milhões de litros/dia. Já tem indústria ociosa e migrando para outros Estados. O motivo dessa escassez foi a diminuição da população rural empregada nessa atividade. Esse fenômeno leva à mais concentração, favorecendo o surgimento de grandes e médias propriedades, com áreas mecanizadas onde o proprietário consegue plantar o pasto, fazer feno e manter baixos os custos de produção.
Outras medidas reivindicadas foram a implementação de subsídios aos produtores para nivelar os custos de produção interno, com os custos de importações internacionais, a ampliação por parte do Governo Federal, das aquisições de leite existente no mercado, para atendimento dos programas sociais, fim de enxugar o volume de leite importado.
A importância da cadeia leiteira para a segurança alimentar do País exige uma política nacional permanente e consistente, pois tanto os produtores quanto as indústrias (laticínios) têm ficado expostos ao comportamento do mercado, que sofre as influências de riscos econômicos, sanitários, ambientais, cambiais e de política comercial dos países que exportam para o Brasil.