Graduação em Medicina Veterinária - Chegamos ao limite?
Adil Knackfuss Vaz, Médico Veterinário e Presidente da SOMEVESC, analisa a oferta dos cursos no mercado e suas consequências.
A aspiração a um curso universitário é um direito de todos. Nos anos recentes tivemos uma importante ampliação das oportunidades de acesso à universidade, com novos métodos de seleção e com um grande impulso na criação de cursos superiores. Isto veio em grande parte satisfazer à demanda – hoje já temos muitos cursos de Medicina Veterinária com vagas ociosas ou baixíssimas relação candidato/vaga – mas por outro lado levou a alguns exageros na oferta.
É compreensível que as universidades, desejosas de oferecer cursos com elevada procura e bom retorno financeiro para a instituição, venham ampliando a oferta de vagas, tanto presenciais como à distância (EAD – Educação à Distância). É uma situação que pode trazer resultados negativos tanto ao estudante, que se arrisca a encontrar uma formação de baixa qualidade e um mercado de trabalho saturado, frustrando seu projeto pessoal, como para a instituição que oferece o curso, pelo risco de não conseguir preencher as vagas oferecidas. E especialmente no caso da Medicina Veterinária o custo destas vagas é elevado, pois pressupõe a existência de uma infraestrutura pesada, como hospital veterinário equipado e com atendimento 24 horas, fazenda experimental, laboratórios completos, medicamentos, professores altamente capacitados e pessoal auxiliar treinado. A concorrência entre instituições se baseia muito no valor da mensalidade e na proximidade com seu local de residência, sendo a qualidade do curso uma consideração de segundo plano na escolha do estudante.
O CFMV e outros Conselhos profissionais tomaram a corajosa atitude de vedar o registro aos graduandos em ensino à distância (Resolução 1.256/2019-CFMV), estabelecendo punições aos médicos veterinários que participarem como professores destes cursos. Uma medida corajosa e emergencial, mas arriscada. Corre-se o risco de vê-la anulada pela Justiça, uma vez que os poderosos interesses econômicos por trás do ensino à distância já se movimentaram, acionando seus advogados no sentido de derrubar esta medida. Uma solução que poderia ser buscada – e já utilizada em outras profissões – seria o exame de suficiência profissional em Medicina Veterinária. Neste caso, o CFMV aplicaria uma prova de conhecimentos, e somente aqueles aprovados teriam direito ao registro profissional e ao exercício da profissão. Esta alternativa já existiu, mas teve vida breve, tendo sido derrubada judicialmente.
É ainda preciso lembrar que, com a recente proposta de virtual extinção dos Conselhos profissionais, perderemos a capacidade de proteção à Medicina Veterinária. Nossos Conselhos se transformariam em sociedades de natureza privada como a SOMEVESC, sem poder de fiscalização, e desta forma a garantia de qualidade de serviços seria abalada.
Finalmente, queremos deixar claro que o EAD tem um lugar importante em várias áreas, inclusive na Medicina Veterinária. Não somos contrários à sua utilização criteriosa, mas é impossível ter um ensino de qualidade em nossa profissão com aulas práticas limitadas a encontros periódicos em polos sem muita estrutura e espalhados pelo país.
AUTOR
Adil Knackfuss Vaz
Médico Veterinário
Mestre em Saúde Animal (University of London)
Pós-Doutor (University at
Buffalo-EUA)
Diretor Geral CAV/UDESC (2006-2010)
Conselheiro do CRMV-SC
Presidente da SOMEVESC