Entre Chicos, boiadeiras, turu-turu e shallow now
Uma reflexão sobre a liquidez do amor.
É inevitável que falemos sobre o elefante na sala. Essa semana resolvi escrever sobre algumas inquietações que suscitam uma breve reflexão sobre o desgaste e a exposição que ocorreram com algumas pessoas, que estão na mídia, e por algum motivo, terminaram um relacionamento amoroso, o que gerou muita notícia, comoção, suspeitas de traição, exposed em rede nacional, e outras tantas situações.
Isso, geralmente, passaria despercebido por mim, não fosse o fato de que por trás tantos holofotes, de tantas suposições e especulações, há que se ater a questão de que, apesar de todo esse Panem et circenses que alimenta e fomenta o monstro das redes sociais o qual nos devora e nos regurgita, há questionamentos profundos que precisamos fazer: o amor está em crise? o que entendemos por relacionar-se? e por que essa sede de envolver-se na vida pessoal de outrem?
Nas duas últimas semanas mais de quatro casais entre eles cantores, atores e artistas no geral, anunciaram o término do relacionamento. Em meio a crises, situações de traição, e nota de esclarecimento, o público, juiz implacável e tenaz, julgou, culpou e absolveu conforme suas regras e percepções.
Dentre tantos comentários e suposições fica o questionamento sobre o quanto o amor anda descreditado nos dias de hoje. Ou ainda o quanto somos impelidos a beber da desgraça do outro como forma de nos conformar com a liquidez e a fragilidade dos relacionamento. Naturalizando essa fluidez e essa superficialidade, pois se acontece até com os famosos, que dirá com a gente.
Isso me fez lembrar o sociólogo e filósofo polonês Zygmunt Bauman que alertava, em um de seus escritos: Amor Líquido: Sobre a Fragilidade dos Laços Humanos, sobre essa situação. Bauman afirma que o Amor líquido é um amor sem apegos, um amor que não pode mais ser 'para a vida toda' porque, no mundo líquido moderno, tudo está em constante mudança. O amor líquido é amor em um estado de fluxo constante.
E me parece que fomos acostumados a aceitar essa liquidez como algo natural. Na sociedade líquida, as redes sociais e os aplicativos tornam mais fácil fazer com que você conheça novas pessoas, mas também tornam mais difícil estabelecer conexões profundas e significativas, pois se você não quiser mais manter contato com a pessoa, basta bloqueá-la e magicamente ela não fará mais parte da sua vida. E é com esse tipo de perversidade que estamos acostumados a vivenciar, e talvez por isso cada vez mais tendemos a viver isolados e sós.
No fim das contas a vida pessoal desses artistas deveria ser problema exclusivamente deles, pouco importa se Chico não quis, se o coração não faz mais turu-turu, ou se a lua não ilumina mais o sol, a questão é que essas situações que vem à tona por conta da exposição midiática, pode de alguma forma refletir uma realidade que está imbricada no tecido social de nossa sociedade o que nos leva a questionar o quanto nossos valores e nossas expectativas em relação ao amor estão sendo minadas e como estamos nos conformando em receber o mínimo.
Cabe aqui salientar que minha intensão não é julgar ou tecer comentários quanto a durabilidade ou os motivos que levaram esses casais a se separarem, não se trata de ter que se manter num relacionamento para todo o sempre, as vezes é necessário que sigamos caminhos diferentes, e tudo bem, mas creio ser importante reconhecer o quanto, nessa sociedade líquida, cada dia mais somos impelidos a aceitar amores supérfluos e relacionamentos frágeis fadados ao fracasso.
De repente seja interessante procurar encontrar uma nova forma de se apaixonar que vá além dos aplicativos de relacionamentos e das redes sociais, de repente ao invés de bloquear ou deixar de seguir a pessoa pela qual perdeu o interesse, seja saudável conversar tête-à-tête, encerrar de forma madura um ciclo, independente disso ser uma utopia, creio que seja necessário repensarmos sobre como estamos banalizando e romantizando essa liquidez dos sentimentos.
Confira essa outra crônicas no meu blog: Emaranhar-se de Poesia