Cultura em Cena! Daniella Cravo e Canella - Pintura em Bolachas

Conheça a artista hervalense que buscou inspiração em memórias e histórias para dar vida as suas produções.

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Memórias afetivas são aquelas desencadeadas pela percepção sensorial de algum elemento: um cheiro ou sabor de alguma comida, uma música que remete a um momento nostálgico, uma fotografia, um brinquedo. Tudo que tenha um significado profundo e nos remeta às boas lembranças do passado.

O pão caseiro saindo do forno, a sobremesa preferida sendo servida, bolinhos fritando na frigideira, a pizza de uma receita exclusiva criada e preparada somente pela mãe para os almoços de domingo, o assobio do pai sentado no sofá da sala acompanhando a música que saía do disco de vinil tocando na antiga radiola.

Estão ligadas ao carinho, ao afeto, às reuniões familiares em volta da mesa, aos momentos que fizeram feliz a nossa infância, ou outra época da nossa vida.

A artista plástica hervalense Daniella Cravo e Canella misturou toda sua vasta experiência no mundo das artes com o doce sabor de uma memória afetiva da sua infância; o da sua mãe preparando bolachas caseiras.

Esta história toda começou lá em 2015, quando estava morando em uma das praias mais bonitas do Brasil, a Praia de Pipa, em Tibau do Sul, no Rio Grande de Norte. Longe da sua terra natal, começou a fazer bolachas pintadas para vender, como uma forma de se conectar com seu passado e com o chão onde nasceu.

A paixão pelo nordeste e suas cores vem de sua infância. Seu nome artístico provém da personagem Gabriela Cravo e Canela, interpretada pela atriz Sônia Braga, na novela “Gabriela”, que coincidentemente foi lançada em 1975, ano de seu nascimento, e que veio conhecer em sua reprise em 1988.

Ficou extasiada quando assistiu a cena antológica em que a personagem principal sobe no telhado para apanhar uma pipa, e a cidade inteira a contempla. Em sua imaginação, viajou até Ilhéus, na Bahia, refazendo aquela cena que ficou gravada em sua memória, agora ela como personagem principal. Daniella naquele momento era Gabriela.

Queria ser igual àquela mulher, ter aquela liberdade, aquele cabelão, aquela coisa selvagem, e aquele jeito de menina. Então, a partir deste momento, incorporou o Cravo e Canella em seu nome artístico.

A arte está em suas veias desde sua infância, quando já sentia uma vontade imensa de criar. Com uma caixa de sapato montava sua casinha, moldando janelas, improvisando pias, fazendo gavetas empilhando caixas de fósforos; cortava panos e fazia roupas para suas bonecas. Com 10 anos começou a criar seus primeiros desenhos, observando rostos de pessoas conhecidas, e com o lápis, transpondo-os para o papel.

Em 1995, foi para a Escola de Samba Unidos do Herval, e com a abundância de material que encontrou, se deu conta que poderia extrapolar, criando mais, muito mais. 

“A Escola de Samba me deu o mundo. Colaborou muito para que eu saísse do giz de cera na cartolina como fazia em casa, da tinta guache no pano, da pintura em paninhos. Ampliou meu horizonte, e cresci como artista. Por isto sou grata ao carnaval”.

Com a experiência adquirida na Escola de Samba, em 1996, junto com as amigas Barbara Pogorzelski e Jane Brandalise, abriu uma loja de decoração para festas de aniversário, onde aprendeu a técnica de esculpir em isopor.

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Da Escola de Samba foi para a faculdade de Educação Artística, com habilitação em Artes Plásticas, em Xanxerê, e após terminar o curso começou a ministrar aulas em Erval Velho, efetivando-se no ano seguinte, quando voltou a trabalhar na sua terra natal, lecionando arte em escolas públicas e na Casa da Cultura de Herval d´Oeste.

Em 2008, começou a ministrar cursos pelo Senar - Serviço Nacional de Aprendizagem Rural, repassando seu conhecimento na arte de pintar para pessoas em todo estado de Santa Catarina. Viveu uma experiência ímpar neste período, trabalhando dentro da reserva indígena de Chapecó. Isto tudo foi lapidando-a, transformando-a como artista e como ser humano.

Em 2015, pegou a estrada e alçou voo longe; foi morar no nordeste. Quando conheceu Olinda, não aguentou, e as lágrimas brotaram em seus olhos. A emoção de estar na região que tanto admirava, de onde surgiu seu nome artístico, a fez chorar como criança. Precisou sair do sul para desamarrar, para se encontrar. Ampliou seus horizontes, começou a enxergar adiante.

“Pipa, onde me estabeleci, é um lugar surreal, um Woodstock. Pipa é a Ibiza brasileira.”

Quando retornou para Herval d´Oeste trouxe junto a ideia de montar uma fábrica de sobremesa congelada, e quando terminou o curso de confeitaria teve uma iluminação “Eu vou produzir só bolachas”.

Em 2017, suas bolachas pintadas começaram a sair do forno. Foi uma das pioneiras no Brasil. A pintura em bolos estava no auge, e iniciavam os testes de pintura em bolachas, quando resolveu abraçar sua nova profissão. Com um trabalho bem artesanal, utiliza como modelo uma foto ou desenho, e com um um lápis recria a imagem no papel manteiga, em um processo parecido com o da impressão utilizada na litografia, moldando uma matriz cujo desenho será transferido para as bolachas.

Após terminada a primeira etapa, as bolachas são pintadas com um pincel utilizado especificamente para confeitaria. O glacê é utilizado como base, como uma tela, e é pintado com corante alimentício, em pó, imitando o efeito do giz pastel, ou em gel, imitando o efeito das tintas.

É como pinturas em tela, ou em papel, ou em madeira, para cada finalidade, um tipo de material, ou para cada efeito desejado, um tipo de tinta. Como tinha toda uma bagagem com pincel e com tinta, só tinha que adaptar o material.

“Eu continuo sendo uma artista plástica, mas agora sou Picasso. Picasso visava dinheiro, eu era Van Gogh. Van Gogh morreu pobre e desconhecido, e eu quero ganhar muito dinheiro fazendo arte”.

Em 2020, participou do projeto “Biscoitos Decorados do Brasil”, organizado pelo ateliê Mela Buldrini Cookies, onde cada participante postava um biscoito decorado com um monumento de sua cidade, com a hastag #brasilamadocolab. Daniella participou com uma bolacha decorada com um desenho do monumento Frei Bruno, divulgando o monumento e a cidade de Joaçaba em todo Brasil.

No mesmo ano também participou da primeira edição do Cake Awards, a Grande Premiação da Confeitaria Artística Brasileira, com várias bolachas disputando troféu na categoria Biscoitos. 

“A arte me deu isto, eu sou uma artista, eu não posso viver longe da arte, da tinta, das cores, mesmo que seja uma arte comestível. A Bolacha é para a criança interior, não é para o adulto. Para aquela criança que todo mundo tem dentro de si. Memória afetiva é vida” 

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Em abril deste ano, Daniella Cravo e Canella inaugura sua loja de Bolachas Pintadas na rua Santa Catarina 345, em Herval d´Oeste. Como não conseguiu registrar o nome Daniella Cravo e Canella, a marca será “Pé de Canella” e o nome fantasia da loja “Casa da Bolacha”. 

Para conhecer mais bolachas pintadas pela artista Daniella Cravo e Canella, acesse sua página no Instagram - @daniellacravoecanella

Cultura em cena é uma coluna escrita pelo produtor cultural Omar Dimbarre, para destacar o que se faz no meio cultural da região.


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