Cultura em Cena: André Luiz - Músico, compositor, professor e produtor cultural
Conheça a trajetória de André na coluna desta semana.
“Cerveja, cerveja, cerveja, hoje é sexta-feira”. As baladas ainda estavam bem distantes da vida do pequeno André Luiz, quando na maior empolgação, repetia alegre este refrão, acompanhando o pai na cantoria, em mais um final de semana refugiados no sítio da família.
O encantamento por um instrumento musical não tardou a acontecer. Com seus 8 anos de idade, ao fixar seus olhos em uma flauta baixo apresentada por sua professora Andrea Lange, durante uma aula no Colégio Luterano Santíssima Trindade, foi arrebatado pelo visual daquele instrumento gigante, comparado ao seu tamanho. E foi este arrebatamento que o instigou a começar a estudar música.
Iniciou seu aprendizado com uma flauta doce soprano, com sua mesma mestra da escola. Seu fascínio pela música fez brotar também uma grande admiração e respeito, que acabou se transformando em um sentimento de amor de filho para com sua mãe, sua mãe musical, por aquela que lhe transmitia todo o conhecimento que ele acumulava em cada aula que participava.
Após dois anos de muito ensaio, a hora de alargar os passos havia chegado, e Lange, visando a busca por um aprimoramento em sua carreira como instrumentista, o levou para conhecer as oficinas de música que aconteciam na Associação Musical da Igreja Evangélica de Confissão Luterana(IECLB).
Ao participar da primeira aula com a professora Christine Matzenauer, coordenadora do grupo infantil, recebeu o veredito que já estava preparado para ingressar no grupo adulto, coordenado pelo professor e maestro Emílio César.
O primeiro ensaio com os adultos foi marcante. Sentou-se ao lado do maestro, e a responsabilidade exigida para tanto, aliada com sua timidez, bloqueou completamente sua mente. Nenhuma nota musical saía de sua flauta. O impacto foi tamanho, que não retornou mais.
Afastado das aulas de música, foi no trajeto a caminho da escola que recebeu um sopro de iluminação – Eu quero tocar piano.
Começou então a trilhar uma nova fase em sua vida tendo como mestra a professora Marta Spessatto Dallarosa, considerada sua primeira madrinha musical.
Bastante curioso, após finalizar a lição, se dirigia ao estúdio do músico Luiz Fernando Spessatto com o intuito de observar tudo que estava sendo realizado. E nesta busca por ampliar seu conhecimento, acabou nascendo uma grande amizade entre os dois músicos. Laços que se fortaleceram e acabaram fazendo da família Spessatto sua segunda família, sua família musical.
O Teatro Alfredo Sigwalt entrou em sua vida por intermédio da professora Marta que o levou para tocar piano no Coral Infantil. E é neste ambiente cultural que nasceram grandes amizades: Davi Matzenauer, Marcelo Ciepielewski e Wlademir Vieira, artistas que fincaram raízes definitivas em sua vida.
Em 2014, após terminar o colegial, aventurou-se em curso de Direito na Unoesc de Joaçaba. Mesmo neste mundo não musical, continuou estudando piano com a professora Marta, tocando em eventos, colaborando no Teatro Alfredo Sigwalt e tendo seus primeiros alunos de música. Porém, foi em 2015 quando formou-se em Instrumento Piano, Didática da Música, Teoria e Solfejo, no Conservatório Musical de Concórdia, coordenado pela professora Candinha, mestra que guarda uma grande estima, que percebeu estar seguindo seu trajeto à deriva. No meio do segundo ano do curso trancou a matrícula e, seguindo conselho de amigos e professores, resolveu sem medo, seguir seu caminho.
Caminho que há tempos já estava sendo traçado. Na sexta série, participou de uma competição entre escolas luteranas de todo o país, com uma composição em homenagem à Joaçaba. A música, produzida pelo grande amigo Nando Spessatto, foi gravada no interior do teatro e acabou contemplada com o primeiro lugar.
Com 16 anos compôs o hino do Colégio Luterano Santíssima Trindade e contou novamente com o amigo Nando que reformulou o ritmo que inicialmente era popular, dando uma conotação de hino.
Dentro de sua carreira, Nando Spessatto, tem uma grande e relevante participação: foi a pessoa quem o ensinou os primeiros passos da arte de compor e o incentivou muito a cursar música na Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc).
Em 2016, partiu para fazer licenciatura em Música no Centro de Artes (Ceart) da Udesc. Foi nesta mudança para a capital catarinense que aconteceu uma grande transformação tanto em sua vida pessoal, como musical. O contato com pessoas de culturas diferentes, vindas de diversas regiões do Brasil e mundo, foi um divisor de águas em sua vida. E dentro da Udesc encontrou sua segunda madrinha musical, a professora de coral e regência Cristina Emboaba, que ainda permanece junto, orientando os passos. Pela primeira vez participou de um coral, cantando como tenor, e o efeito causado por estar fazendo música usando a voz como instrumento ampliou sua forma de entender, de pensar e de sentir.
Em 2017, alunos do curso de música formaram o Madrigal Udesc, grupo vocal de câmara coordenado pela professora Emboaba, que abre a possibilidade de regência e de performance de obras mais elaboradas de diferentes épocas, bem como músicas compostas pelos acadêmicos.
E foi no Madrigal que André Luiz teve a oportunidade de reger um coral e uma orquestra, estagiando como regente da Big Band Udesc.
Participou do espetáculo “A Era do Rádio” (2017) cantando junto do Madrigal, colaborou com a preparação do coral no espetáculo “Ode a Zumbi – O Comandante Guerreiro” (2018) e regeu uma peça, e em 2019 dirigiu a orquestra e o coral no espetáculo “O Grande Circo Místico” e interpretou solo a música “Beatriz”, de Chico Buarque e Edu Lobo.
No mesmo ano de 2017, idealizou o Projeto na Teia, realizado no Teatro Alfredo Sigwalt, e que tem como mote promover artistas da região do Vale do Rio do Peixe, e contou em sua primeira edição, com a presença de 25 artistas que apresentaram poesias, músicas, danças e teatro, além de exposições de artes no hall de entrada do teatro. Foram realizadas mais duas edições do projeto e uma nova edição está sendo idealizada para este ano.
Em 2019, assumiu a regência do Coral infantil “Viva Voz” da Udesc e passou a compor músicas infantis, entre elas “Olha a Bruxaria” que foi lançada no final de abril deste ano.
Em 2020, participou da 9ª edição do festival de música Fiato al Brasile, na cidade de Faenza na Itália. Compôs a música “Rio Igarapé” que fez parte do espetáculo principal, regeu a obra “A Lua” do compositor José Gustavo Emboaba, além de reger outras duas músicas em um concerto clássico.
Conviver na Udesc ampliou sua forma de ver o mundo e moldou sua identidade, e em 2020, após um tempo isolado por causa da pandemia do Covid-19, retornou para sua terra natal.
“Não trouxe nem a mudança. Uma amiga da família que botou todas as minhas coisas no caminhão e mandou. Mas 2020, apesar de todo mal que aconteceu no mundo, foi um ano que consegui desenvolver muitos trabalhos, foi um ano muito bom neste sentido... Eu tenho noção que tenho uma segurança familiar. Sou grato à família que tenho. Meu pai e minha mãe não tinham nada, trabalharam muito para conseguir o que tem hoje em dia. Meu pai é um grande exemplo de perseverança para conseguir as coisas por meio de muito trabalho e respeito com o próximo.”
Em 2020, foi contemplado pela Fundação Cultural Catarinense com o prêmio por Trajetória cultural, Aldir Blanc.
Em 2021, gravou seu primeiro Ep “Translação” e lançou o clipe da música “Ensaio sobre a Barbárie”.
Canta Comigo na Record
Neste ano, recebeu uma mensagem de um produtor do Talent Show, dizendo que havia assistido os seus vídeos e gostado, e o convidou para se inscrever no “Canta Comigo”. Enviou um link com um formulário para fazer a inscrição. Inicialmente desconfiou que fosse um golpe e por uma semana, não se inscreveu.
Na semana seguinte, o produtor entrou em contato novamente, e André acabou topando e enviou o formulário com sua inscrição. Duas semanas após, foi comunicado que havia sido aprovado, e que precisava gravar mais alguns vídeos. Ainda um pouco desconfiado, telefonou para a empresa para confirmar, e acabou mantendo contato com várias pessoas, o que o fez concluir que eram muitos, para ser um golpe. Enviou uma lista com 40 músicas, com um único samba: “Ex-Amor”, que acabou sendo a música aprovada pela produção.
A gravação
“Cheguei lá na produção. Eu gosto dos fundos. Me encantei com a produção, todo mundo fala, ah, mas tu tava nervoso, os jurados falaram que eu estava nervoso, Eu não estava nervoso. Eu estava concentrado! Estava esperando o diretor falar no ponto que tinha no meu ouvido - Pode se apresentar. Não ter a conexão com os jurados neste inicio foi um ponto negativo para a apresentação, mas eu aprendi muita coisa lá. Quando subir no palco, tem que estar conectado com o público.
A ideia inicial sempre foi de ir apenas nesta primeira apresentação, vou lá aprender. Mas depois de me apresentar deu muita vontade de voltar. A produção é incrível. Todo mundo correndo a mil, mas sempre sorrindo, um tratamento incrível, coisa de outro mundo. Não senti tensão antes de ir, nem quando estava indo e nem quando estava lá.
Reconheci o palco, como faço no teatro. Olhei tudo. Olhei para as luzes, para o som para ver como funcionavam, tudo para me sentir em casa. Quando entrei no palco eu estava tranquilo, só fiquei nervoso, quando os jurados começaram a dizer - Fica calmo. Eu falei: eu to calmo. Coração começou a acelerar, mas depois tranquilizou.
Fiquei nervoso mesmo quando assisti. No dia me deu um frio na barriga imenso. Meia hora antes estava bem nervoso, mas passou, foi divertido a sensação. O feedback da galera foi massa. Recebi muitas mensagens. Muita gente dando um retorno muito carinhoso.”
No final de abril lançou o projeto “Olha a Bruxaria – Um Conto de Santa Catarina”, composta por uma música autoral e uma contação de histórias inspirada no conto Balanço Bruxólico de Franklin Cascaes, realizado através do Edital Aldir Blanc de Santa Catarina.
Projetos futuros: Está produzindo 3 músicas ao mesmo tempo para lançar este ano, em julho sai a primeira chamada “Bem-vinda ao Fim”. As outras perto do fim de ano, pois tem um clima mais de verão, segundo o artista. Também pretende realizar mais contos voltados para crianças e fazer com que o vídeo de contação de histórias circule, incluindo uma apresentação no teatro para analisar como as crianças reagem.
Atualmente André Luiz está lecionando aulas de piano, canto e outras especificidades relacionadas a música, no seu estúdio em Herval D’Oeste, trabalhando com os alunos principalmente a composição.
Para conhecer mais sobre o artista André Luiz, acesse sua página no Instagram: @souandreluiz
Contato pelo e-mail: [email protected]