Campos Novos recebe a 2ª Mostra de Cinema Chica Pelega - contestado em foco

Serão cinco filmes exibidos durante o dia todo, no Cine Lúmine, que fica na Praça Lauro Muller, no Centro da cidade.

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Na segunda-feira, dia 11 de abril, Campos Novos recebe a Segunda Mostra de Cinema Chica Pelega - o contestado em foco. Serão cinco filmes exibidos durante o dia todo, no Cine Lúmine, que fica na Praça Lauro Muller, no Centro da cidade. A Mostra leva o nome da guerreira Chica Pelega, a  Francisca Roberta, resgatada por meio da memória oral do Conflito do Contestado e também propõem, por meio do cinema, uma valorização da cultura oral do povo caboclo, e uma tentativa de reparação histórica, visto que os livros didáticos - ou a historiografia oficial - pouco fala sobre quem perdeu a guerra - chamada de genocídio  pelo historiador Vicente Telles: “É canhão contra facão, isso é guerra ou genocídio?”. 

A Guerra do Contestado (1912-1916) foi a guerra civil mais sangrenta que aconteceu na história do Brasil. Naquele tempo, o governo brasileiro entregou uma faixa de terra de 15 quilômetros a cada margem da ferrovia São Paulo X Rio Grande para o capital estrangeiro, liberando a exploração principalmente da madeira, que era farta. As pessoas que ali moravam e plantavam para as suas subsistências foram expulsas de suas terras - as quais não tinham um papel que lhes desse propriedade. E isso dava o direito ao capital estrangeiro de matá-los se fosse preciso para garantir essa posse.

Durante a Mostra, os horários diurnos serão dedicados às escolas públicas municipais e estaduais, que irão assistir a quatro curtas-metragens: Irani, do Rogério Sganzerla (1983), Olhar Contestado, da Fabiane Balvedi (2015), Kiki, o Ritual da Resistência Kaingang (2014), da Ilka Goldschmidt e do Cassiano Vitorino e Larfiagem (2017), da Gabi Bresola. 

Os filmes,  com curadoria do cineasta joaçabense Rudolfo Auffinger, são curtas-metragens com duração média de 15 minutos, ideal para sala de aula, questionando as fotografias oficiais da guerra, lembrando rituais dos povos indígenas Kaingang e abordando idioma criado por hervalenses 40 anos depois do conflito para se comunicar na estação ferroviária, a conhecida grinfia ou Larfiagem. 

À noite, o curta-metragem Kiki, o Ritual da Resistência Kaingang (2014) da Margot Filmes, de Chapecó, abre a sessão. Ele mostra o ritual mais importante daquela etnia indígena, realizado anualmente, para que os falecidos recentes fizessem uma boa passagem ao mundo dos mortos (numbê). 

O Cine Lúmine abre as portas para todos os públicos também para que possam assistir ao longa-metragem Terra Cabocla (2015), de Márcia Paraíso e Ralf Tambke. Por meio do grupo folclórico Renascença Cabocla, de Fraiburgo, devotos de São João Maria - ou joaninos, como são conhecidos - mantêm viva até hoje, a memória dos mortos em combate. O filme traz depoimentos de pesquisadores, é o primeiro de uma trilogia que foi produzido pela produtora Plural Filmes de Florianópolis sobre o conflito do contestado. 

Após a exibição haverá debate mediado pelos convidados: João Maria Chaves dos Santos, integrante do movimento dos trabalhadores rurais sem terra (MST) em SC desde 1984 e de Jilson Carlos Souza,  caboclo, educador e comunicador popular e integrante da Associação Paulo Freire de Educação e Cultura Popular (APAFEC). 

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O projeto é uma realização do Governo do Estado de Santa Catarina, por meio da Fundação Catarinense de Cultura (FCC), com recursos do Governo Federal e da Lei Aldir Blanc e conta com a produção da VMS Produções e da Pupilo TV de Joaçaba.

SOBRE OS FILMES

TERRA CABOCLA (Marcia Paraiso e Ralf Tambke, 2015, 82m)

Um povo simples, de crenças e rituais tradicionais habita a região do Planalto Catarinense. Símbolos de uma forte resistência cultural, os caboclos enfrentaram uma guerra de extermínio há 100 anos atrás, quando sofreram severos ataques de grandes fazendeiros, do Estado e das oligarquias que estavam de olho nas terras que o grupo ocupava. Apesar da Guerra do Contestado ter quase dizimado a cultura local, o povo caboclo conseguiu se reerguer e mantê-la viva até os dias atuais. 

KIKI, O RITUAL DE RESISTÊNCIA KAINGANG 

(Cassemiro Vitorino e Ilka Goldschmidt, 2014, 34m)

Kiki é o ritual mais importante da etnia indígena. Foi realizado em 2011 na Aldeia Condá Chapecó/SC). De forma cronológica, são mostrados os preparativos na mata e na aldeia. A realização do ritual foi uma tentativa de revitalizar e fortalecer o dualismo Kaingang. O filme mostra, também, como a língua kaingang ainda hoje representa um importante signo dessa cultura, demonstrando que os indígenas mantêm sua identidade apesar da violência do contato com outras etnias.

preparativos na mata e na aldeia. A realização do ritual foi uma tentativa de revitalizar e fortalecer o dualismo Kaingang. O filme mostra, também, como a língua kaingang ainda hoje representa um importante signo dessa cultura, demonstrando que os indígenas mantêm sua identidade apesar da violência do contato com outras etnias.

OLHAR CONTESTADO

 (Fabianne Balvedi e Fernando Severo, 2012, 15m)

A animação de câmeras virtuais sobre registros fotográficos, ilustrações e desenhos rotoscopiados sobre documentários da época fornecem os elementos visuais necessários para a reconstituição minuciosa dos locais, personagens e eventos do conflito. As principais fotografias utilizadas são de Claro Jansson, fotógrafo contratado pela Madeireira Lumber, que registrou passagens fundamentais daquela que ficou conhecida como Guerra Santa do Sul. O Contestado ainda é uma guerra cheia de interrogações, cheia de dúvidas, do que realmente aconteceu. Além do importante caráter histórico/documental, o filme se destaca pelo fato de ser aberto (filme e fontes disponibilizados livremente)  e ter sido produzido com ferramentas livres.)

LARFIAGEM (Gabi Bresola, 2017, 18m)

Engraxates, carregadores de malas e outras crianças de 7 a 15 anos de idade conviviam com viajantes da estação ferroviária de Herval d'Oeste (SC), nos anos de 1950. Para sobreviver, comprar gibis e ir ao cinema, driblar fiscais, policiais e até os próprios pais, inventaram uma língua própria. Hoje, décadas depois,a Larfiagem aparece como memória de seus últimos falantes, agora septuagenários, mas que ainda conhecem, ensinam e decifram os segredos de seus substantivos e pronomes.

Fonte:

Cristina de Marco

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