Bolinha – Uma História que se Entrelaça com A História Cultural de Joaçaba – Parte 2
Assista as entrevistas icônicas que Bolinha fez com Roberto Carlos e Raul Seixas e descubra curiosidades sobre os shows.
O sucesso alcançado pelo programa Os Discos do Bolinha, aliado à determinação que o jovem Antonio Carlos Pereira tinha de conhecer vários ídolos de uma época em que a música brasileira explodia em programas de rádio e de registrar os momentos culturais históricos que se desenrolavam diante de seus olhos, o levou a colecionar várias entrevistas com artistas que se apresentaram em Joaçaba nas décadas de 60, 70 e 80.
Leia aqui a parte 1 - Bolinha - Uma História que se Entrelaça com a História Cultural de Joaçaba
Shows e Entrevistas
“Roberto Carlos esteve aqui duas vezes, em 1967 no cinquentenário e em 1973. Em 1968 esteve aqui o Erasmo Carlos. E no mesmo ano de 67 entrevistei “Os Demônios da Garoa” (Antoninho, Arnaldo Rosa, Claudio, Roberto, Ventura), quando eles vieram fazer um show antes de um baile abrilhantado pela orquestra do grande pianista Waldir Calmon no Clube Cruzeiro. Eu os reencontrei 27 anos depois, jantei com eles no Clube Dez de Maio e levei a gravação da época, e a entreguei ao Arnaldo. Porque o Arnaldo tinha feito um desenho para mim, e me entregou enquanto eu os entrevistava lá em 67, no Hotel Alabama, que é na rua Francisco Lindner, pertinho da firma Francisco Lindner. Eu os entrevistei lá, e o seu Arnaldo tinha feito um desenho de um guri de calça curta, que seria o Bolinha, entrevistando com um microfone na mão. Este desenho eu guardei, tirei cópia para ele e ele ficou surpreso. – “Mas, quem é que guarda por 27 anos uma gravação de uma entrevista”? Eu disse que só guarda quem é fã. O radialista não guarda, pois ele trabalha com material da rádio, mas como eu uso material próprio coleciono essas lembranças.
O Moacyr Franco veio em 73. Quando voltou a Joaçaba, deve ter sido em 2005, entreguei a ele uma cópia da foto em que o Guto, filho dele, estava junto conosco. Aqui estiveram diversos outros artistas ao longo dos anos: Ângela Maria, Agnaldo Timóteo, Família Lima, Rolando Boldrin, Sérgio Reis, Almir Sater, Wanderley Cardoso, Fafá de Belém, entre tantos outros, como Guilherme Arantes e Oswaldo Montenegro, que em 2016 vieram ao Teatro; Juca Chaves e Rosa Maria, que cantaram no Auditório Afonso Dresch da Unoesc em 1995 e 1996.
Na década de 70, veio o Jerry Adriani, escolhido em votação popular com mais de 30 mil cartas que chegaram na Rádio Catarinense. Ele participou de um concurso em 1972 para escolher o ídolo do Vale, mas não podiam votar em quem já tivesse vindo, como o Roberto ou o Erasmo. Precisava ser um diferente, pois eles queriam trazer quem nunca viera, e o Jerry Adriani foi o mais votado. Após o show, eu o entrevistei no ginásio Silveirão. Com o Antônio Marcos, foi emocionante a entrevista. No quarto do hotel onde ficou hospedado com os músicos, ele tinha a foto da filha Aretha, recém-nascida, e eu o entrevistei antes do show. Ele contou histórias pessoais, muito íntimas dele; foi muito emocionante.
Mais recentemente, o Celso Blues Boy, vascaíno e grande guitarrista. Os rapazes do Tangos e Tragédias, Hique Gomez e Nico Nicolaiewsky, Kleiton e Kledir, que estiveram no Teatro Alfredo Sigwalt. Eu os anunciei e, depois, o maestro Nando Spessato foi jantar conosco no restaurante, e ficamos um bom tempo conversando. Mas a principal destas entrevistas, a que mais repercutiu e repercute até hoje, foi a que fiz em 19 de novembro de 1976, com Raul Seixas.
Ainda inexperiente, em dezembro de 1966, fui convidado para anunciar os participantes do Festival de Talentos da AABB, no Clube Dez de Maio, evento do qual participaram Mauro Sérgio Batista, Ray Toscan, Tanello; Ney Viana, guitarrista dos “King’s Boys”, melhor conjunto da época; Letefala Jacob (compositor do Hino de Joaçaba, que recebeu letra por Miguel Russowsky); Paulo Prata, músico que hoje reside em Marselha, na França.
Com o jornalista Mário Motta, hoje deputado estadual, fui o mestre de cerimônias em 2012 da “Locutor Fest”, uma espécie de Congresso de Rádio que aconteceu em Treze Tílias e teve como convidado especial o radialista Wilton Franco, que em 1981 fazia O Povo na TV” no SBT e foi o descobridor e diretor dos Trapalhões.
Entrevistei Renato Barros em junho de 1996, quando Renato e seus Blue Caps abrilhantaram uma noitada no Ginásio de Esportes da AABB, eu tive a honra de introduzir a banda e o orgulho de entrevistá-los. Essa entrevista foi transcrita e publicada integralmente pela escritora paulista Lucinha Zanetti, autora do livro Renato Barros: Um Mito, Uma Lenda. Hoje, meu modesto programa radiofônico figura na História da Música Popular Brasileira. Esses orgulhos a gente tem que falar, quando se orgulha de algo positivo, como foi ali.”
Bolinha também entrevistou Altemar Dutra, conhecido como o Rei do Bolero e o Maior Seresteiro do Brasil; Chico Anysio, um dos maiores e mais geniais humoristas brasileiros; Jair Rodrigues, um dos sambistas mais tocados na história do rádio no Brasil; RC7, a banda que acompanha Roberto Carlos; The Bells, banda paulistana de rock; o conjunto instrumental The Jordans, que marcou época na música brasileira e é considerada uma das melhores bandas instrumentais dos anos 60; e o grande intérprete Miltinho, que, em 2013, apenas alguns meses antes de falecer, deu sua última entrevista por telefone, graças a um ouvinte de Jaraguá do Sul, Curt Nees, que conhecia uma amiga da filha do cantor e fez o contato.
Raul Seixas
Em 1976, o Maluco Beleza Raul Seixas estava no auge da fama. Em junho daquele ano, Raulzito havia lançado um compacto simples com a música “Eu Nasci Há 10 Mil Anos Atrás”. A música, que faria parte do álbum “Há 10 Mil Anos Atrás”, a ser lançado no fim daquele ano, explodiu nas rádios, e o compacto vendeu mais de 100 mil cópias. Isso fez com que Raul aparecesse duas vezes no programa Globo de Ouro e que um clipe gravado pela Rede Globo fosse exibido no Fantástico. O sucesso do Maluco Beleza no cenário musical brasileiro não era novo; em 1973, o cantor baiano vendeu 180 mil cópias do compacto com a música “Ouro de Tolo”, e em 1974, o compacto com a música “Gita” vendeu a impressionante quantia de 600 mil cópias. Raul era um fenômeno.
“Eu vou te contar, a entrevista eu encerrei rapidamente porque, além dele ter esvaziado um litro de conhaque, que ele havia pedido ao nosso querido e saudoso amigo Idolor Ferreira, conhecido como Piraí, que morava ao lado do Ginásio de Esportes Silveirão; Raulzito estava meio alterado. Levemente alterado, digamos. E quando perguntei a ele, lá pelas tantas da entrevista, quem ele preferia na Música Popular Brasileira, eu perguntei ao Raulzito - Dentro do panorama nacional quem é que você destaca como gente de real valor na música jovem? Ele parou, ele pensou, e disse – “Ok, bem, na música? Na música jovem deixa eu ver...” Fez uma pausa de novo, e completou – “Oh, a arte é o espelho social de uma época, certo? O que que um cantor faz? Ele reflete o momento social que ele tá vivendo. Se é um momento de plin, se é um momento de plan, ele tá plin, certo. Se ele tá plan, ele plan. Então, ele projeta aquele momento”. Ele falou mais algumas coisas, mas eu vi que era hora de encerrar.
Esta entrevista ficou guardada na gaveta por muitos anos, até que um dia o músico Alexandre dos Santos (o Chimaru, que mais tarde seria o intendente de cultura de Joaçaba), fez um belo tributo ao Raul Seixas no Teatro Alfredo Sigwalt e no Clube Cruzeiro, depois levou para outras cidades. O Chimaru disse “Bola você ainda tem aquela entrevista?” Tenho. Tá lá em casa. Ele disse – “me empresta a fita K7 que nós vamos digitalizar”. Ele digitalizou, colocou em linguagem MP3, e colocamos em CD e gravamos numa fita de VHS. Como não tinha imagens em movimento nem do show, nem da entrevista, só o áudio, filmei capas de discos do Raul Seixas, na montagem da fita VHS, e foi colocada à venda na loja Fonte Viva Discos, dos meus amigos Aloir Loraschi e João, e alguém comprou e levou esta fita para longe, digitalizou, e colocou no youtube. Esta entrevista tem hoje milhares de acessos, porque alguém colocou na rede, na internet, e tá correndo o mundo. Seguidamente as pessoas comentam as respostas do Raul. Os mais jovens nem acreditam que ele tenha estado em Joaçaba. O Raul é uma lenda. Agradeço a quem fez esta publicação, mas eu realmente não conheço, não sei quem é que publicou e nem como chegou às mãos desta pessoa. Mas, realmente ajudou a divulgar o nome de Joaçaba, o nome de Herval d’Oeste. Mostra que temos pessoas de valor, e é muito importante a preservação da memória. É importante porque, quem desconhece a própria história, arrisca a repetir os erros do passado. E quem estuda o que já aconteceu, conduzirá melhor o presente e preparará o futuro.”
Roberto Carlos
A primeira entrevista que Bolinha realizou com o cantor Roberto Carlos aconteceu em 23 de julho de 1967, quando ainda apresentava seu programa na Rádio Herval d’Oeste. O show ocorreu no antigo Estádio Municipal Oscar Rodrigues da Nova e fazia parte das comemorações do cinquentenário do município. Roberto Carlos ficou hospedado na residência do empresário Ivan Orestes Bonato, e Bolinha, um adolescente de 16 anos, munido de coragem, bateu na porta da casa onde Roberto Carlos estava hospedado e conseguiu falar com o artista.
Show no Escuro
Em 1967, Roberto Carlos era um ícone da Jovem Guarda, e o show na cidade foi um grande acontecimento. A chegada do ídolo, no começo da tarde, no aeroporto, esvaziou a cidade. Todo mundo queria ver o “Rei”. “Abre a porta do avião e ele aparece com uma capa preta. Quando a multidão aclamou Roberto, ele abriu a capa, que por dentro era vermelha. Foi um impacto que ele realmente provocava nas pessoas.”
Cansado de ser passado para trás após levar vários calotes, o empresário do artista adotou uma nova postura em relação aos shows. Roberto Carlos só se dirigia ao local do show após todo o valor do contrato ter sido pago. Como o pagamento dependia da venda dos ingressos, isso resultou em um atraso no início do aguardado espetáculo, originalmente marcado para as 16h30. Como era inverno e o sol se debruçava mais cedo no horizonte, e o estádio não tinha iluminação, parte do show ocorreu no escuro.
“Como eu disse, apenas por usar um microfone, numa emissora do interior, eu tinha acesso a esses shows. Foi montado um palanque dentro do Estádio Oscar da Nova, de frente pro lado da arquibancada, que tinha o Rio do Tigre atrás, e este show aconteceu no escuro. Eu estava ao lado do palanque, junto do radialista Enir José Ceconi, do Parafuso, e outras pessoas que estavam por ali, e ao final eu perguntei para o Roberto se ele me daria uma entrevista.
Ao me identificar, expliquei que eu fazia um programa na rádio local, e ele me respondeu o seguinte “Bolinha, te dou entrevista com o maior prazer, mas eu tenho que preservar a voz, porque tenho uma nova apresentação no baile de debutantes do clube local (o Dez de Maio), e eu gostaria de descansar. Mas, se você está disposto a acordar cedo, meu avião sai às 8 horas da manhã. Se você quer ir na casa onde eu estou hospedado, eu te recebo com o maior prazer.”
Claro que às 7 horas eu já estava na frente do portão da casa do Dr. Ivan Bonato, esperando alguma movimentação lá dentro. Levei junto comigo algumas revistas e alguns discos que eu queria pegar o autógrafo do Roberto, inclusive o compacto simples, gravado pelo Trio Esperança, com a música Festa do Bolinha, que era o prefixo do meu programa. Música de autoria do Roberto e do Erasmo Carlos. Roberto assinou e, mais tarde, quando veio a Joaçaba, o Erasmo também assinou este compacto simples. Eu já conhecia o Dr. Ivan, bati na porta, entrei; o Roberto estava tomando café, e quando ele veio até a sala de entrada da residência, eu estava bastante nervoso. Não é todo dia que você, um guri de 16 para 17 anos, tá frente a frente com o maior ídolo da música brasileira. E digo mais, não é à toa que este cantor e compositor, o artista chamado Roberto Carlos, desfruta do sucesso imenso que ele tem tido ao longo desses anos, porque é uma pessoa extremamente carismática e muito atenciosa com as pessoas. Eu pude perceber naquela vez que ele podia dizer: “Não, eu já vou embora amanhã cedo, e tchau. Agora vou guardar minha voz“. Não, ele me recebeu. Tiramos uma única foto, porque o Dr. Ivan trouxe a máquina fotográfica, e disse brincando, para me provocar “Bolinha é slide, deixa para a outra vez, para fotografar com ele”. Eu disse – Não, eu quero hoje! Não sei se vai ter outra vez.
E aquela entrevista foi publicada por uma revista de Blumenau, chamada Revista do Sul. Como era o ano do cinquentenário de Joaçaba, seu diretor Dr. Oséas Guimarães, vinha muito para Joaçaba, para vender comerciais para empresas e fazer reportagens. E ele vinha ao bar do meu pai, que era ao lado da Acioc, ele estava sempre por ali, e me perguntou se eu concordava de publicar por escrito aquela entrevista. Eu disse Sim, mas eu não tenho como lhe pagar. Ele disse “Não, nós não vamos lhe cobrar nada, porque é uma matéria de interesse jornalístico. Nós vamos publicar”. Não esqueço que ele falou isso.
A querida colega radialista Maria de Lara, casada na época com Cyro Vizalli, um casal que teve em Joaçaba a primeira agência de publicidade do oeste catarinense, CYMAR Publicidade, pegou a fita que era daqueles rolinhos, dois rolinhos, e copiou e transcreveu a entrevista que eu fiz com o Roberto Carlos. E foi uma entrevista longa.
Agora eu vou me gavar. Nota da redação, publicada pelo Dr. Oseas: “Ao publicar a interessante entrevista concedida por Roberto Carlos, ao menino bom e inteligente que é o Bolinha, que tem um ótimo programa na Rádio Herval d´Oeste, a nossa revista que penetra em todos os lares, vai ao encontro do modo de sentir de hoje, da nossa juventude. Não somos adeptos do ye-ye-ye, completa ele, nem fazemos por mercantilismo para ganhar dinheiro. Pelo contrário, pertencemos a chamada Velha Guarda, mas temos que viver a época. E as minhas filhas apreciam Roberto Carlos, Ronnie Von. E os leitores que são mais velhos compreenderão e aplaudirão o nosso gesto.”
Então, aquele interesse jornalístico do Oseás Guimarães, uma pessoa da qual eu nunca mais tive informação, acredito que pode já ter partido, contribuiu para o meu modesto programa de rádio, que sempre fiz por gostar, nunca ganhei dinheiro com isto. Fiz por hobby mesmo, passatempo, uma coisa que eu fazia com o maior gosto, maior paixão. ”
Shows nas capitais
O encantamento pela arte de combinar sons e ritmos de forma harmoniosa levou o jovem Antonio Carlos a prestigiar alguns dos ícones da música brasileira em shows realizados nas grandes capitais.
“Em 1968, visitei meu mano Carlos José na capital paulista, e depois da aula ele me levou ao teatro onde acontecia a eliminatória do Festival de MPB. Ali eu assisti Martinho da Vila, Os Originais do Samba, Jair Rodrigues, Taiguara, Milton Nascimento e Chico Buarque. No intervalo penetrei no camarim dos artistas e conversei com os Mutantes Arnaldo, Sérgio e a Rita Lee. Ela me perguntou de onde eu vinha, e queria saber se em Santa Catarina costumava cair neve. Minha resposta foi que fazia muito frio, mas a última nevasca tinha acontecido em 1965. Em janeiro do ano seguinte eles publicaram algumas fotos na neve na Europa, quando foram ao famoso Midem (Mercado Internacional de Discos e Editores Musicais) em Cannes, na França.
Em outra ocasião, em novembro do ano 1974, eu tinha ido com meu mano a um jogo do Palmeiras contra o Peñarol, no Estádio Palestra Itália, e na volta fomos ao TUCA, Teatro da Universidade Católica, assistir Elis Regina. Conversei com a Elis ao final do espetáculo. Após assinar um autógrafo com dedicatória (“Ao Antonio Carlos, Sinceramente, Elis Regina”), ela quis saber de onde eu viera e se aconteciam muitas apresentações de cantores aqui, pois ela é da região Sul e gostaria de vir a Santa Catarina.
Em 1974 fui a São Paulo assistir a cantora norte-americana Dionne Warwick e o francês Richard Anthony, que fazia enorme sucesso com a adaptação “Aranjuez mon amour”, e vinte anos depois fui ao show em que Caetano Veloso revelou ter sido em sua homenagem que Roberto Carlos fizera a música “Debaixo dos caracóis dos seus cabelos“.
E teve mais: em junho de 1996 minha esposa “sugeriu” que como presente de aniversário ela gostaria de assistir Roberto Carlos no Teatro Guaíra, de Curitiba. Fomos acompanhados por algumas amigas: Arlete Vesoloski, Gloria Nodari, Glacy Carraro, e estivemos naquela maravilhosa casa de espetáculos outras vezes, ali assistimos Mercedes Sosa e em outra ocasião o Ballet Bolshoi da Rússia. Em 2011 eu, a Marina e as filhas fomos ao Rio de Janeiro assistir o Beatle Paul McCartney. No ano seguinte, os filhos nos acompanharam ao show do André Rieu em São Paulo.
JBA é a sigla pela qual nossa cidade é conhecida. JBA foi o nome escolhido para o “Jornal do Bairro Alto”, publicado em Curitiba pelo nosso ilustre conterrâneo Marcos Antônio Batista, um joaçabense apaixonado cá pela Terrinha. Ele foi pra capital paranaense em 1967, cursou Jornalismo na Faculdade de Comunicação Social-Pontifícia Universidade Católica do Paraná. Foi diretor Presidente na empresa RTVE - Rádio e Televisão Educativa do Paraná; também teve passagens marcantes no Jornal Gazeta do Povo, Televisão Paranaense, Rádio Independência do Paraná, diretor de jornalismo na empresa Grpcom e na Rádio Barigui AM. Em 2015 quando eu visitava familiares nos encontramos, ele me convidou para ir até essaa emissora e lá fui entrevistado pela repórter Sara Carvalho. Ela queria saber do carnaval de Joaçaba e os motivos da longevidade d’Os Discos do Bolinha. Quanto ao Marcos, continua na ativa, e divulga fatos do cotidiano no “JBA”. Resumindo, o Marcos saiu de Joaçaba, mas Joaçaba não sai dele...“
Os Discos do Bolinha – Estreia, Primeiro Aniversário e Melhores do Ano
“A Rádio Herval d’Oeste, ZYT-31, funcionou entre 1956 e 1974, quando teve sua concessão “cassada”, talvez por algum comentário político “inoportuno”. A 1ª audição do programa foi levada ao ar em 23/10/1966 pela ZYT-31, Rádio Herval d’Oeste, aqui de Joaçaba (SC). Para a estreia, programei essas músicas, que eu reapresentaria em 2016, na despedida: “Esqueça“ – Roberto Carlos; “É duro ser estátua“ – Erasmo Carlos; “Até o fim“ – Renato e seus Blue Caps; “Sandra (Sorrow)“ – Ed Wilson; “Tu Corazón“ – Orlando Alvarado; “Tristeza“ – Jair Rodrigues; “Io ti darò di più“ – Jerry Adriani; “Boa noite, meu bem“ – Wanderléa. O prefixo musical foi um tema instrumental, de autoria do maestro Ennio Morricone, tema do filme “Una Pistola per Ringo”, e mais tarde viria a ser “A Festa do Bolinha”, gravada pelo Trio Esperança.
Em outubro do ano seguinte, para comemorar o primeiro aniversário, fizemos, no antigo “Boliche Las Vegas” (atual Galeria Trevisan), um show com convidados especiais, artistas locais que cantaram e tocaram as músicas da Jovem Guarda. Vejam que time ilustre eu tive o privilégio de escalar: Mauro Sérgio Batista e a mana dele, Cristiane, Edmilson José Dambrowski e os rapazes do afamado conjunto musical The King’s, formado por Paulinho Prata, Ney Vianna, Ray Toscan, Tanello, Evaldo Pegoraro e Gaspareto. Só lamento não ter fotos desse evento. Algumas músicas que eles interpretaram no palco do Boliche: “Namoradinha de um amigo meu“, “Só vou gostar de quem gosta de mim“, “Estou começando a chorar“, “A Praça“, “Tema de Lara“, “A carta“, “Coisinha estúpida“...
Nosso saudoso amigo Iraí Zilio apresentava diariamente na rádio Catarinense “Alô Jovens” e, aos sábados, “As Campeãs da Semana”. Como meu programa era semanal, tive então a ideia de apresentar as Campeãs do Mês e, ao final de dezembro, Os Melhores do Ano. Como curiosidade, estes foram OS MELHORES DO ANO DE 1966:
· Cantor: Roberto Carlos
· Compositor: Roberto & Erasmo Carlos
· Compositor Revelação: Chico Buarque
· Revelação: Leno & Lilian
· Cantora: Wanderléa
· Conjunto: Renato & Blue Caps
· Conjunto Instrumental: The Jordans
· MPB: Elis Regina & Jair Rodrigues
· Dupla: Os Vips
· Voz: Agnaldo Rayol
Essa escolha era criteriosa; eu enviava uma lista a radialistas e críticos da região e do país, por exemplo, gente das rádios Bandeirantes e Tupi, da revista Veja e do jornal Folha de São Paulo. A cartinha dizia o seguinte: “Sr. Fulano de Tal, devido a seus conhecimentos e sensibilidade, gostaríamos de contar com sua ajuda em nossa escolha dos melhores do ano”, com a assinatura do gerente da emissora, Normélio Zilio, ao lado da minha. Eu anexava a relação dos melhores do ano anterior e a folha de votação do ano corrente, para ser preenchida e devolvida até o final de janeiro. Claro, nem todos respondiam, e os escolhidos eram então apresentados no início do ano seguinte.
Rádio Catarinense
Em 1968, dois anos após estrear seu programa na Rádio Herval d'Oeste, o imenso sucesso alcançado por “Os Discos do Bolinha” chamou a atenção do ex-prefeito de Joaçaba, Normélio Zílio, que naquele momento era diretor da Rádio Catarinense, ZYC-7, e o convidou para fazer o programa na emissora, das 17 às 18 horas, o que foi aceito pelo jovem locutor. Assim, as tardes de sábado da juventude da região passaram a ser embaladas pelo repertório de músicas escolhidas a dedo pelo talentoso radialista.
“E quantos amigos me dizem “Bolinha eu não gostava de lavar o carro do pai, mas nas tardes de sábado eu fazia questão de lavar, por que eu ligava na Rádio Catarinense e ficava ouvindo aquelas músicas no teu programa”. Essas coisas não tem dinheiro que pague.
Rádio Líder
“Eu trabalhava no Banco do Brasil, fazia rádio apenas nos finais de semana. Mas quando a Rádio Líder de Herval d’Oeste iniciou suas atividades, em 1979, participei do “Madrugadão da Líder”, que ia ao ar da meia-noite até as 2 horas da madrugada. Eu gravava minha participação, mas na 6ª feira participava ao vivo, recebíamos músicos locais, era uma festa. Já nos anos 80 trabalhei sob as ordens do jornalista Carlos Henrique Roncalio, que agora está de volta ao nosso convívio e me distingue com o epíteto de “agente cultural e preservador da história, uma espécie de embaixador das coisas que movem a cultura em Joaçaba e região”; reatar essa amizade renovada nos tem trazido bons momentos. Voltei à Líder no ano de 1996, a convite dos seus diretores, no horário das 11h da manhã, numa tentativa de alavancar a audiência do noticioso do meio-dia. “
Canal 21, TV Cidade
“Em 2010 gravei um depoimento para o documentário “Música & Regime Militar”, enfatizando o que falo quando sou convidado a palestrar em colégios e universidades a respeito da censura às artes naquele período. E a partir do ano 2000, por iniciativa do Vilmar Sartori, apresentei videoclipes no Canal 21, TV Cidade, e participei do programa “Olho Vivo na TV” ao lado do meu padrinho de casamento Adgar Bittencourt. Dirigidos pelo Vilmar Sartori, entrevistamos pessoas como Rogério Sganzerla, gente do carnaval e da cultura em geral, e em 30/08/2003, data da inauguração do Teatro, o pessoal do Ballet Bolshoi de Joinville.
Lembrando que tivemos aqui retransmissoras das TVs Manchete, Barriga Verde/Band, RBS/Globo, aquela que foi embora para Lages, embora tenha concessão para atuar em Joaçaba.“
Colecionismo
“Omar, eu comecei a comprar discos em 1966, antes mesmo de ter um aparelho de som para ouví-los... hoje o meu acervo tem aproximadamente 3 mil unidades de discos em vinil (e outro tanto em CD), mas a minha discoteca tinha tudo pra crescer, pois a primeira aquisição foi uma caixa com 8 LPs, um “Festival de Música Popular” acompanhado por um caderno, ricamente ilustrado, com informações sobre cada uma das gravações. Os discos tinham de um tudo: músicas de concerto, temas de filmes, valsas e ritmos latinos para dançar, músicas para acompanhar as refeições, para repousar, e o principal: um álbum inteiro de música popular brasileira – canções populares, folclore, baião, xote, marchinhas de carnaval, e só pude ouvir depois de um bom tempo, quando um amigo emprestou uma vitrola, então artigo de luxo.
O que explicaria essa dedicação-quase-vício? Sabemos que a música nos transporta no tempo e no espaço como nenhuma outra manifestação artística. A agradável combinação de ritmo, harmonia e melodia, faz bem, anima e acalma a alma, facilita o aprendizado e a concentração, desenvolve os sentidos, aproxima as pessoas e traz de volta acontecimentos bons ou nem tanto, e ocupa um lugar especial em nossas melhores lembranças.
Claro que tenho os meus discos preferidos, e diariamente encontro um tempinho para ouvir boa música.
Possuo algumas raridades, por exemplo, Louco Por Você, o primeiro LP do Roberto Carlos; Viva a Brotolândia, o primeiro LP da Elis Regina, ambos lançados em 1961. Em 78 rpm (rotações por minuto), em ordem cronológica: Cascatinha e Inhana, 1951, Índia/Meu primeiro amor; Carlos Galhardo, 1955, Cereja Rosa (a minha “música da infância”, que tocava incessantemente em um parque de diversões que se instalou perto da nossa casa, no local em que hoje está o Edifício Mendes); Frank Sinatra, 1957, cantando Aquarela do Brasil (tendo no outro lado “Witchcraft”, a música que Sinatra e Elvis cantaram juntos na TV em 1960); João Gilberto, 1958, Desafinado, a gravação que deflagrou o movimento da Bossa Nova, tendo no lado B uma rara composição do João, Hô-bá-lá-lá. E ainda conservo o envelope, em papel jornal vazado no centro, da Loja J. Conte & Cia., com matriz na Av. 15 de Novembro e filial em Chapecó, na rua Getúlio Vargas, informando que ali se vendia vitrolas, discos, agulhas, rádios, válvulas.
Ao longo dos anos adquiri a coleção completa do Roberto e do Erasmo Carlos, dos Beatles, do Raul Seixas, Milton Nascimento, tanto em LP quanto em compact-disc, o “velho” CD que tem sido substituído por mídias alternativas - e dizem que há gente que guarda a sua coleção “nas nuvens”!
A minha discoteca tem sido enriquecida por doações de alguns bons amigos colecionadores de vinil, como Duval Dornelles, de Videira, que eu conheci em 1973 e tem tudo o que diz respeito ao Elvis Presley, e que vendeu ao próprio Roberto Carlos o primeiro LP do Rei (“Louco por Você” de 1961), pois ele tinha em dobro, e Nelson Martelli, de Chapecó, meu mais constante e generoso colaborador desde que nos conhecemos em 1995, o maior colecionador que você pode imaginar.
Eu sou “viciado” em leitura desde a tenra infância, meus pais tinham uma Livraria e ali pelos cinco ou seis aninhos eu já sabia ler. Sei que não vou dar conta de ler tudo o que temos, mas cataloguei mais de mil e setecentos livros, dos mais variados assuntos. Nessa biblioteca da família, a maior quantidade é sobre música, romances, religião, história, autoajuda, biografias, livros infantis e também minha leitura favorita, contos e crônicas. Entre os destaques, muita coisa sobre os Festivais, Bossa Nova, a Jovem Guarda e “RC em Detalhes”, o livro que o Roberto infelizmente mandou recolher; bastante Beatles & Elvis. Mas o principal está nos livros de autores locais e da nossa região, entre mais de uma centena de títulos, destaco as memórias das famílias Balestrin, Bragagnolo, De Carli, Lindner, Lovato, Nehring, Oliveira Pinto, Pichler, Pizzolati Alves, Queiroz, Riquetti, Sari, Sganzerla, Waldomiro Silva, entre outras, além de toda a coleção do Dr. Miguel Russowsky, e pra mim o mais valioso, os dois volumes de “Velhos Tempos... Belos Dias” (2010 e 2011), as memórias de meu saudoso e sempre presente papai Raul Anastácio Pereira.
Entre as raridades, um de 1943: “Piloto de Guerra”, escrito por Antoine de Saint-Exupéry, com tradução de Monteiro Lobato, e “Brasil nunca mais” (D. Paulo Evaristo Arns, Ed. Vozes, 1985) com a dedicatória: “Ao Antonio Carlos, almejando coragem e perseverança na busca da Justiça” e o autógrafo do presbiteriano brasileiro, militante de direitos humanos, Jaime Wright, irmão de Paulo Stuart Wright, nascido em Herval d’Oeste.
Claro que não me comparo ao historiador Enéas Jeremias Queiroz, que tem aproximadamente 3 mil livros sobre nosso Estado, mas estes que eu tenho são muito importantes, pois contam a história de alguns municípios: Água Doce, Campina da Alegria, Campos Novos, Chapecó, Erval Velho, Herval d’Oeste, Joaçaba, Luzerna, Piratuba, Porto União, (Porto Vitória PR), Treze Tílias, Videira, entre outras“
Casamento
“Em 1975 eu casei com a Marina, que é natural de Porto União. A Marina dava aula em Caçador, e em 1972, quando nos conhecemos, ela participava de um curso para capacitação de professores aqui em Joaçaba, pois naquele tempo a região de Joaçaba abrangia muito mais do que hoje. E os professores públicos estaduais de Caçador vinham a Joaçaba para essa capacitação.” Casados há quase 50 anos, estamos aposentados das atividades profissionais mas continuamos dedicados a atividades comunitárias e desde 2003 somos Ministros Extraordinários da Santa Comunhão na Igreja Católica, e a Marina continua dando cursos nas Oficinas de Oração e para as mães que oram pelos filhos. Nós temos quatro filhos: Caroline, a mais velha, casada com o Gilberto; Luciana, casada com o Jorge; Guilherme, o primeiro dos meninos e Ricardo, o mais novo, casado com a Amanda; e três netos, Roberto e Paulo, filhos da primogênita, e a pequena Aurora, filha do caçula.“
Cineclube Miguel Russowsky
Nas duas gestões em que Bolinha assumiu a presidência da Scajho, foi responsável pelo Cineclube Miguel Russowsky, que esteve ativo entre agosto de 2010 e julho de 2013 e as sessões aconteciam no Teatro Alfredo Sigwalt, onde ele apresentou aproximadamente 180 filmes, sempre em DVD, dentro do projeto “Cine Mais Cultura” do Ministério da Cultura. Em 30 de agosto 2010, data do sétimo aniversário do Teatro Alfredo Sigwalt foi apresentado o primeiro filme. Escolhida para estreia a fita que, segundo o Dr. Miguel Russowsky, alcançou a maior bilheteria do Cine Vitória, o filme “O Corintiano”, de 1966, o 19º filme de Mazzaropi, dirigido por Milton Amaral e estrelado por Mazzaropi (nosso Chaplin caboclo) e a atriz Lúcia Lambertini (que estreara na televisão em 1952, vivendo a Emília da primeira versão do Sítio do Picapau Amarelo) com participação de Geraldo Bretas, o famoso narrador esportivo. O barbeiro Manoel, apelidado de Seu Mané, morador da Vila Maria Zélia, na cidade de São Paulo é um torcedor fanático do Corinthians Paulista, que faz de tudo pelo seu time de coração, enlouquecendo sua família. Entra em conflito com um vizinho italiano e palmeirense. Teve locações no Estádio do Pacaembu, em São Paulo e apresenta cenas de jogos reais do Corinthians, nas quais aparece até o jogador Rivellino.
“E fechando o ciclo, foi levado em outubro 2013, o filme “Tapete Vermelho”, dirigido em 2006 por Luiz Alberto Pereira. Morando em uma roça bem distante de qualquer cidade grande, decidido a cumprir uma promessa, o protagonista leva a família para uma aventura que só cabe em seus sonhos, assistir em uma sala de cinema a um filme estrelado por Mazzaropi. Desejando cumprir a promessa a qualquer custo, Quinzinho (Matheus Nachtergaele), sua esposa Zulmira (Gorete Milagres), o filho Neco com 9 anos (o menino Vinicius Miranda) e o burro Policarpo vão em busca de um cinema que pudesse exibir o filme (e o escolhido foi Jeca Tatu, de 1959).“
Em abril de 2011, em uma parceria com a Secretaria de Educação de Joaçaba, Bolinha realizou 28 sessões do filme “Memorável Trem de Ferro - Cem anos de História da Ferrovia São Paulo-Rio Grande”, dirigido por Ernoy Mattiello e produzido por Vilmar Sartori e Cleide Fátima. Mais de 4 mil alunos da rede pública municipal acompanharam as sessões do documentário. Alguns destes alunos não conheciam o interior do Teatro Alfredo Sigwalt.
Continua na Parte Final, com os seguintes assuntos: Rogério Sganzerla, Casa da Cultura Rogério Sganzerla, Helena Ignez, Joel Pizzini, Publicações, Promotor Cultural do Ano, Homenagem no Desfile das Escolas de Samba, SCAJHO, Maestro Alfredo Sigwalt e os alunos do Teatro, Centenário de Joaçaba, Cápsula do Tempo e Última Transmissão do Discos do Bolinha.
Entrevista com Raul Seixas
Entrevista com Roberto Carlos em 1967
Entrevista com Roberto Carlos em 1973
Cultura em Cena é uma coluna escrita pelo produtor cultural Omar Dimbarre, para destacar o que se faz no meio cultural da região.