'Tentamos convencê-lo a não ir', diz filha de médico que estava em avião desaparecido com brasileiros na Argentina

Desde que a Defesa Civil foi notificada sobre o desaparecimento, são realizadas buscas na região.

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O empresário Antônio Carlos Ramos (à dir.) o advogado Mário Pinho (ao lado) e o médico Gian Carlo Nercolini (ao fundo) Foto: Reprodução
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Familiares do médico ginecologista Gian Carlo Nercolini, um dos três brasileiros a bordo do avião que desapareceu na Argentina nesta quarta-feira, tentaram convencê-lo a não ir a um festival em comemoração do aniversário de 87 anos do Aeroclube de Comodoro Rivadavia, motivo da viagem ao país. Além dele, o empresário Antônio Carlos Castro Ramos e o advogado Mário Pinho voavam na aeronave que sumiu dos radares após sair da cidade de El Calafate com destino a Trelew. Todos moram em Santa Catarina e têm habilitação para pilotar.

O último registro de comunicação ocorreu nas proximidades da vila de Bahía Bustamante, na província de Chubut. Desde que a Defesa Civil argentina foi notificada sobre o desaparecimento, por volta das 17h de ontem, são realizadas buscas na região, uma área entre o mar e a costa. Até o momento, nenhum vestígio foi encontrado. As equipes de resgate precisaram interromper a operação aérea nesta quinta-feira em razão do mau tempo. As buscas terrestres continuam.

A Empresa Argentina de Navegação Aérea (EANA), órgão que controla o trânsito de aviões no país, informou nesta quinta-feira que o equipamento que auxiliaria na localização da aeronave não foi ativado.

—- Eles desapareceram do radar, e ninguém sabe onde estão. Continuaram as buscas aéreas pela madrugada e retomaram as terrestres hoje pela manhã, mas não acharam pedaço de peças, escombros, nada — disse a filha do médico, Nicole Nercolini, de 26 anos, ao GLOBO. — Estou desesperada atrás de notícias. É bem difícil essa situação.

A estudante mora em Curitiba e mantém contato com um dos brasileiros que estava em uma segunda aeronave. Segundo as autoridades argentinas, três aviões saíram do mesmo local, mas dois deles se deslocaram para Puerto Madryn. Apenas o monomotor RV-10 com matrícula PP-ZRT, que pertence ao empresário Antônio Carlos Ramos, não chegou ao seu destino.

Foi por meio de um amigo da família que a filha do médico soube sobre o sumiço do avião. Nicole e a tia haviam alertado o ginecologista sobre as condições da região para onde viajou na Argentina. Gian Carlo frequentava o Aeroclube de Santa Catarina em quase todos os finais de semana e tinha licença para voar, mas não havia participado até então do evento fora do país, segundo a estudante. O perfil do aeroclube no Facebook parabenizou, em 2018, o ginecologista pelo cheque inicial de piloto privado.

— Eu já fiquei receosa quando soube. Não tinha quase ninguém no lugar, era um lugar inóspito, com muita geleira. Minha tia também tentou convencê-lo a não ir, porque passava pela Cordilheira dos Andes — contou Nicole.

Segundo a imprensa local, houve fortes tempestades nesta quarta-feira na área onde a aeronave fez sua última comunicação. As chuvas ultrapassaram os 40 milímetros em poucas horas. Também foram registradas fortes rajadas de vento. Uma das hipóteses é que uma formação de gelo nas asas possa ter atrapalhado o voo.

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— Acham que, para desviar da tempestade, ele subiram muito alto, e isso criou gelo nas asas — disse a filha do médico. — Estamos esperando as autoridades, não sei até onde vai. Acredito que a Aeronáutica brasileira estava indo lá para dar suporte, mas precisa do aval do governo argentino.

De acordo com o presidente do Aeroclube Lago Argentino, Freddy Vergnole, os tripulantes foram alertados sobre as más condições meteorológicas antes de decolarem. Disse ainda que o trio fez uma parada alternativa em Puerto Deseado, mas decidiu continuar a viagem.

— O único local onde tinham uma clareira era a Leste, o problema é que a Leste fica o mar e para um avião que não tem sistema de proteção anti-gelo, isso é perigoso. Aparentemente eles carregavam muitas formações de gelo nas asas, o que produz um peso que não permite que você voe — afirmou Vergnole à imprensa argentina. — Quando você entra em uma formação de gelo, precisa estar alerta imediatamente. Você pode perceber o acúmulo no nariz do avião ou na asa e precisa descer para escapar dessa situação imediatamente.

Conforme dados disponíveis no site da ANAC, a aeronave foi fabricada em 2016 pela Flyer Indústria Aeronáutica LTDA e tem capacidade para três passageiros. Seu peso máximo de decolagem é de 1.224 kg. O avião nao era autorizado a voar por instrumento, apenas para operar em voo visual diurno e noturno. O voo por instrumento ajuda em condições climáticas desfavoráveis.


Fonte:

O Globo

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